The Muppets/ Os Muppets
direção: James Bobin
elenco: Jason Segel, Amy Adams, Chris Cooper, Jack Black
elenco: Jason Segel, Amy Adams, Chris Cooper, Jack Black
Gosto quando os estúdios decidem fazer revival de atrações antigas, principalmente, claro, se eu era fã delas, como é o caso de Os Muppets. Mas aí sempre vem o problema: o público-alvo. Os produtores vão optar pelos antigos fãs, que hoje já são adultos, e investir na nostalgia ou vão preferir angariar novos espectadores, modernizando a história? Geralmente eles optam por mesclar os dois tipos de público (o que é a pior saída). Os Muppets não foge à regra. Talvez por tentar atingir as crianças menores, o filme tenha diminuído as gags que faziam tanto sucesso na série, que naturalmente atingia um público mais crescido. O longa começa com uma deslocada estética retrô (mas até interessante), que vai se perdendo ao longo do filme. O comediante Jason Segel, que vive Gary, o protagonista humano, parece até uma cópia barata do lendário Dick van Dyke, ator de musicais da década de 1960. Aliás, Jason tem um currículo de comédias em que ele é sempre o cara mala, o todo-errado da história. Aqui ela força demais uma simpatia e o resultado um tanto irritante. Amy Adams, que faz a sua namorada, Mary, é pouco explorada e sua trama vai sumindo aos poucos. Do elenco carne-e-osso, quem visivelmente se diverte e, por tabela, alegra o público, é Chris Cooper como Tex Richman, o grande vilão da história. Já o elemento novo dentre os bonecos é Walter, irmão de Jason (sim! irmão!), grande fã dos Muppets que se propõe a salvar o teatro do grupo antes que ele caia na mão de Tex Richman, que quer a propriedade só pelo petróleo que está abaixo dela. A relação entre Jason e Walter esboça até uma crise existencial no começo, mas depois é esquecida. Talvez esse seja o problema de Os Muppets: um excesso de tramas paralelas. Deixem os bonecos brilharem sozinhos! Porque isso, eles fazem muito bem... Caco, Gonzo, Animal, Fozzie e todos os outros estão em perfeita forma. Principalmente a diviníssima Miss Piggy, que agora tem os cabelos lisos e é editora da revista Vogue, na seção plus-size! Uma paródia maravilhosa de O Diabo Veste Prada, que tem até a participação de Emily Blunt, que fazia a secretária da Meryl Streep no filme. E o que mais se esperaria de um filme com os Muppets? Boas músicas (grande parte a cargo de Bret McKenzie, inclusive vencedor do Oscar) e uma salada de cameos. Tem para todos os gostos: Whoopi Goldberg, a cantora Feist, Selena Gomez, Alan Arkin, Zach Galifianakis, Neil Patrick Harris (da série The Big Bang Theory), John Krasinski (de The Office) e Jack Black, que, de todos, é o que mais interage com os bonecos. Os Muppets funciona como uma boa diversão passatempo, mas, no fundo, a gente sabe que poderia ser muito mais. Principalmente se abusassem das referências e focassem em suprir a sede nostálgica dos antigos fãs da série.
Never Let Me Go/ Não Me Abandone Jamais
direção: Mark Romanek
elenco: Carey Mulligan, Andrew Garfield, Keira Knightley, Charlotte Rampling
Baseado no best-seller de Kazuo Ishiguro, Never Let Me Go é uma mistura entre romance e ficção científica, que mostra a saga de Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), três amigos que se conhecem em um colégio especial para crianças clonadas que têm a única função de, no futuro, servirem como doadores de órgãos. O filme atravessa a infância, a adolescência e a fase adulta do trio, mostrando também o inevitável envolvimento sentimental que vai se desenrolando ao longo dos anos. Para torna-lá bastante verossímil, o diretor inglês Mark Romanek (premiado por videoclipes de Johnny Cash, Madonna e Fiona Apple) trouxe a história para um universo o mais normal possível, utilizando uma ambientação bem próxima da realidade. Tem lindas sequencias filmadas na Inglaterra e uma bela fotografia com uma palheta de cores praticamente monocromática. Além disso, Mark tenta a todo momento evitar um possível melodrama, através de uma condução fria e melancólica, mas bastante séria, que infelizmente vai se tornando apática do meio pro final. Aliás, o começo do filme, que retrata a infância do trio, é, sem dúvida a mais envolvente de todas. Gera inclusive uma sequência memorável: quando Kathy ganha de Tommy uma fita cassete de uma cantora fictícia Judy Bridgewater (na verdade, a canção-título Never Let Me Go é interpretada por Jane Monheit). O roteiro é bem interessante, faz uma análise crítica ao progresso da ciência e à sociedade, algo meio no estilo George Orwell. E também não entrega tudo de mão beijada, o espectador vai descobrindo aos poucos o futuro pré-destinado dos personagens. Uma pena que as coisas pareçam meio fora de rumo justamente após uma revelação feita por Ruth, que é fundamental para o desfecho do enredo. Dos três atores, Carey Mulligan (de Drive e Shame) se destaca positivamente e, pra mim, só se reafirma como um dos melhores nomes dessa nova safra de atrizes. Ela faz um ótimo elo com a atriz Isobel Meikle-Small, que interpreta sua personagem quando criança. Never Let Me Go tem um potencial poético enorme, através do paralelo entre amor e morte, que infelizmente se torna diluído pelo extremo cuidado em manter o filme acima do sentimentalismo. É ótimo fazer as coisas de uma forma clean e classy, mas não a ponto de barrar o envolvimento emocional do espectador.
Tomboy
direção: Celine Sciamma
elenco: Zoé Heran, Malonn Levana, Mathieu Demy, Jeanne Disson
Pra começo de conversa, tomboy é uma gíria para denominar meninas que possuem comportamento de menino, algo bem moleque mesmo. É esse assunto delicado, já indicado pelo título, que a diretora Celine Sciamma aborda neste longa vencedor do Teddy Bear (o prêmio do Festival de Berlim dedicado a filmes com temática gay). O roteiro, também da autoria de Celine, conta a história de Laure (Zoe Haran), uma garota de dez anos que se muda com a família para o subúrbio, durante as férias de verão. Para as crianças da nova vizinhança, ela decide se apresentar como Michael e então, adota um comportamento masculino da frente delas. Algo que não é muito difícil, já que Laure tem o cabelo bem curto, só usa bermuda e camiseta e tem trejeitos de garoto, numa fase em que o corpo ainda é algo naturalmente bem andrógino. Bom, duas coisas saltam aos olhos em Tomboy: a competência impressionante da performance de Zoe Haran no papel principal. Inclusive, no começo do filme, você fica sem saber ao certo o sexo da personagem. Aliás, todas as crianças atuam muito bem. Inclusive, a diretora selecionou amigos da vida de real de Zoe para os papéis coadjuvantes. Tudo para tornar o clima mais real o possível. Para este fim, Celine Sciamma também optou por locações reais e sons naturais ao invés de uma trilha-sonora convencional. Outro aspecto evidente no longa é a delicadeza com que Celine conduz a história. Tudo é tratado com muito cuidado e respeito. E a família, que geralmente faz o papel de vilão nesse tipo de filme, embora não questione diretamente o comportamento de Laure, a respeitam e a aceitam numa boa. O pai até parece se divertir com isso. A irmã gosta de ter um irmão mais velho para protegê-la. E o próprio rompante emocional da mãe nas sequencias finais é algo normal e justificável. Com naturalidade e leveza, Tomboy foge do espírito militante que segue a maioria dos filmes de temática gay. Aliás, é sobretudo um filme sobre o universo infantil. Dispensa tanto sequencias chocantes quanto uma estética fairytale para suscitar discussões profundas como a diferença entre a alma e a forma do corpo e a origem da influencia comportamental e sexual dos indivíduos.
Sobre Never Let Me Go: o filme não me desceu! Eu fiquei o tempo inteiro incomodado com a passividade dos personagens diante de um destino tão injusto e cruel.
ResponderExcluirEu entendo que o roteiro tem seus motivos para ignorar essa possibilidade, e faz parte da "realidade alternativa" do filme colocar essa aceitação. Mas não me convenceu. Eu vejo os motivos, mas não os acho convincentes.
E concordo que da metade pro final, a história se torna apática.
Valeu pelas cenas dos personagens quando crianças, aquela escola maluca e etc, muito interessante! E a mensagem do final, "o tempo nunca é suficiente" etc, gostei. Mas só.
Bom, essa passividade dos personagens me deixou um tanto incômodo também. E o final foi meio abrupto, com a personagem da Carey Mulligan resumindo a história... não gosto de finais "resumidos", me dá uma sensação de preguiça do diretor. Realmente, a melhor parte do filme é a que retrata a infância deles.
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