W./E./ O Romance do Século
direção: Madonna
elenco: Abbie Cornish, Andrea Riseborough, James D'Arcy, Oscar Isaac
Eu vou deixar de lado a incrível entertainer musical que Madonna é, assim como vou esquecer suas atuações catastróficas em filmes ao longo da carreira. Vamos focar a Madonna diretora, que estreou com Filfh and Wisdom (2008), o qual não assisti ainda, mas ouvi dizer que um apelo Godardiano. No longa inglês W./E., além de dirigir, Madonna produziu e escreveu o roteiro. A premissa, até promissora, é sobre a relação entre Wallis Simpson (Andrea Riseborough) e Wally Winthrop (Abbie Cornish), duas mulheres separadas por mais de seis décadas. A primeira, viveu um polèmico romance com o rei inglês Edward VIII (James D'Arcy). A segunda, vive um casamento instável e, como válvula de escape, se torna obcecada pela história de Wallis. A história indiretamente dialoga com o oscarizado O Discurso do Rei, onde Colin Firth vive o irmão de Edward VIII, que assume o trono quando este desiste por causa de Wallis Simpson. Inteligente o timing de Madonna em filmar essa história um ano após O Discurso do Rei. Aliás, a direção dela, em si, não é ruim, mas também não salva o filme de uma série de desastres: a parte moderna da história simplesmente não cativa; James D'Arcy interpreta Edward VIII com uma canastrice constrangedora; a câmera utiliza de travellings até interessantes, mas exaustivamente repetidos ao longo do filme, o que cansa visualmente qualquer espectador; a trilha-sonora não se encaixa; por fim, há um problema sério na composição de Wallis Simpson. A personagem não encanta e ainda desenvolve um ar oportunista. Será que Madonna, no fundo, acredita na teoria de que o rei Edward era gay e Wallis era hermafrodita? Pesquisei a respeito e era justamente o oposto disso que a diretora queria afirmar. A única coisa que se salva em W./E. são os ótimos figurinos (inclusive indicado ao Oscar). Talvez o acúmulo de funções tenha desviado a atenção de Madonna no papel como diretora. Acho que ela deveria investir mais em curtas ou médias metragens pra evoluir esse lado que pode vir a dar resultados mais satisfatórios em breve. A história entre Edward e Wallis tem um grande apelo, mas... de boa intenção, o cinema tá cheio.
Shame
direção: Steve McQueen
elenco: Michael Fassbender, Carey Mulligan, James Badge Dale, Nicole Beharie
Shame é o tipo daqueles filmes, que, de tão bem comentados, você coloca suas expectativas no grau mais alto possível. Isso, de cara, já te dá uma empatia com a obra, mas ao mesmo tempo, tanta esperança pode te levar a um desapontamento. Ainda bem que Shame se limita à primeira sensação. Apesar das cenas chocantes e do conteúdo pesado, nada impressiona mais do que a atuação de Michael Fassbender (Um Método Perigoso; Jane Eyre). Sua tour-de-force vivendo Brandon Sullivan é a prova de que o Oscar nunca esteve tão sem noção ao ignorá-lo na categoria de Melhor Ator. Não muito atrás vem Carey Mulligan (Drive; Never Let Me Go), como a irmã de Brandon, Sissy. Não simpatizava muito com Carey, mas só a cena dela cantando New York, New York, é de deixar de queixo caído. Sua não-indicação também entra pro rol de falhas gravíssimas da Academia. É fato que, com o passar dos tempos, é cada vez mais difícil pro cinema chocar espectadores sem abusar de cenas explícitas. Mas é curioso observar a delicadeza que o diretor Steve McQueen (não confundir com o ator homônimo, morto em 1980) utiliza para guiar essas cenas em Shame, dando um aspecto quase que de um videoclipe muito bem filmado. Todo um jogo de câmeras coordenado, uma iluminação muito bem utilizada, intercalações inteligentes entre uma boa trilha-sonora e um silêncio necessário. E as demais seqüências do filme, bem longas e detalhistas, colocam o espectador como verdadeiros voyeurs da situação. Shame é mais um longa que não explica porquês e não segue a narrativa começo-meio-fim. Esse é o seu único porém: não se aprofundar na questão psicológica de Brandon, um homem viciado em sexo que mantém uma relação de amor e ódio com a irmã. Cabe ao espectador inúmeras suposições, algumas pistas são dadas pelo roteiro, mas nada é revelado de fato. Não chega a ser um defeito, mas vários filmes em 2011 seguiram por essa linha, acho que tal técnica já demonstra sinal de cansaço. De qualquer forma, a direção de McQueen e as performances de Fassbender e Mulligan estão completamente imunes de qualquer crítica. Mais uma observação: o que George Clooney disse sobre Michael Fassbender poder jogar golfe sem usar as mãos, é tudo verdade.
Seeking Justice/ O Pacto
direção: Roger Donaldson
elenco: Nicolas Cage, Guy Pearce, January Jones, Jennifer Carpenter
Quero deixar bem claro que, só por um milagre, eu vou assistir a um filme com Nicolas Cage de novo. Algo do tipo: Stanley Kubrick ressuscitou e exigiu que Nicolas estrelasse seu próximo filme. Eu devia ter aprendido com o desastre Reféns, em que ele fazia um casal com Nicole Kidman. Mas não, dei uma chance a O Pacto, graças a direção de Roger Donaldson, que fez uns filmes B que eu particularmente curto (O Inferno de Dante; A Experiência; Efeito Dominó). Nicolas está mais canastrão do que nunca e parece até contagiar o elenco, já que até Guy Pearce (Amnésia) e January Jones (da série Mad Men) aparentam não estar nos seus melhores dias. A premissa do roteiro é boa: um professor (Nicolas) leva uma vidinha pacata, até o dia em que sua mulher (Jones) é violentada. Um homem misterioso (Pearce), oferece ajuda para encontrar o bandido responsável pelo crime e se vingar dele. Em troca, pede para que pague com um favor quando for necessário. É claro que esse favor envolve algo do nível de assassinato, perseguições, etc., e quando o professor (extremamente correto, por sinal), percebe, está envolvido numa organização do submundo do crime. Pena que o roteiro opte pelo caminho de personagens extremamente estereotipados, reviravoltas o mais inverossímeis possível e [ALERTA SPOILER] a premissa de uma continuação [/ALERTA SPOILER], algo que nove entre dez filmes do gênero fazem atualmente. Em tempos onde filmes como Drive revitalizam o cinema de ação, é triste ver coisas do naipe de O Pacto ainda serem filmadas. Em suma: uma completa perda de tempo.
Se Kubrick trabalhou com Tom Cruise, Nicolas Cage é fichinha!
ResponderExcluirQuanto ao Shame, para mim é uma estória de início, meio e fim: sua vida de viciado em sexo - seu desconforto em relação a isso quando a irmã aparece - o personagem superando este "distúrbio" no final. Também vi muita delicadeza na direção, o que não nos deixa dúvida de que ele não quer fazer um filme pornô, mas um drama muito interessante.
haha, não se esqueça de Tom Cruise em "Nascido em 4 de Julho", "Rain Man" e "Jerry Maguire". Acho que ele teve boas performances nesses 3 filmes. Sim, também vi a vontade de fazer um pornô softcore, mas algo na linha do que rolava muito nos anos 80/90, tipo "9 e 1/2 Semanas de Amor", cenas de sexo fortes, mas bem filmadas. E obrigado pelo comentário!
ResponderExcluirAinda tenho esperança que Shame surja em algum cinema por aqui (Natal)... Senão, o jeito é recorrer à locadora ou ao mercado negro, rs. Eu vi numa entrevista que o diretor do filme dizia que o Fassbender não fora indicado ao Oscar porque os americanos tem medo de sexo, haha. Pior que tenho que concordar com ele, porque, pelo pouco que vi de sua atuação, conseguiu ser melhor do que George Clooney (não consigo engolir seu pseudo favoritismo por Os Descendentes. Filme chatíssimo, rs). Ah, é coincidência mesmo ou todo filme com a Carey Muligan é de "bom" pra "ótimo"? Adoro tudo que ela faz!
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ResponderExcluirEis a matéria com o comentário do diretor Steve McQueen:
ResponderExcluirhttp://pipocamoderna.com.br/diretor-de-shame-diz-que-michael-fassbender-foi-esnobado-pelo-oscar-porque-americanos-tem-medo-de-sexo/152407
Olá, Lucas, meu colega de Oráculo do Oscar! Obrigado pelo comentário! Então, sobre o Fassbender... eu sei que o Oscar tem aquela velha fama de conservador e puritano, mas eu fico meio na dúvida quando lembro de "Midnight Cowboy". Um excelente filme, mas X-Rated, que foi premiado pela Academia na categoria principal em pleno 1969. Será que o corpo de júri do Oscar sofreu um retrocesso ao invés de ser ocupado com mentes mais... liberais, digamos assim? Este ano houve uma série de injustiças, não consigo supor algo que as justifique de fato. Quanto ao Clooney... não sou fã, acho que ele tá sempre interpretando uma variante de si mesmo. Mas, dentre os indicados, é de quem eu mais gostei. Notei um diferencial em "Os Descendentes", achei que ele dominou bastante o personagem, com o qual me envolvi bastante. De qualquer forma, não há dúvidas de que Fassbender foi melhor do que Clooney (embora Ryan Gosling continue sendo o meu favorito de 2011). Aliás, acho melhor vc baixar "Shame", porque essas distribuidoras estão cada vez pior, haha.
ResponderExcluirAcredito que o momento histórico em que Midnight Cowboy foi exibido colaborou para sua vitória no Oscar. Era final dos anos 60, no auge do movimento hippie, da exaltação da liberdade sexual, da força dos jovens em movimentos políticos, etc. De certa forma, os votantes (mesmo sendo velhos), são influenciados por essa "aura de liberalismo" e querem marcar época. No Brasil, nos anos 70, o cinema nacional bombava com as pornochanchadas, para "distrair" os jovens tão reprimidos e proibidos de se expressar no período militar. Hoje em dia, ironicamente, percebo que está havendo justamente o caminho oposto, com uma onda de conservadorismo patético que culminou, inclusive, com a censura duma abertura de novela, tendo como justificativa que "não era compatível com os padrões morais atuais do Brasil". Outro exemplo é a derrota de Brokeback Mountain anos atrás para um filme que acho magnífico (Crash), mas que artisticamente está bem abaixo do primeiro (não por acaso, o melhor diretor daquele ano foi Ang Lee). Estabilidade econômica traz sentimentos conservadores, eu vi em algum artigo por ai. Curioso, para não dizer deprimente...
ExcluirVerdade, "Brokeback Mountain" é um bom argumento à favor desse lado moralista do Oscar. Não sou um fã do filme do Ang Lee (muito menos de "Crash"), mas reconheço o seu valor. Infelizmente tem muita coisa envolvendo o Oscar, não é só o mérito artístico que eles reconhecem. Pelo menos temos o inglês Bafta que ainda mantém uma certa coerência na hora de eleger os melhores. Aliás, irônico liberar as pornochanchadas e segurar os filmes do Pasolini e do Bertolucci, mesmo que estes não tivessem conteúdo político, né?
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ResponderExcluirE sobre Shame, eu vou dar um ultimato: se até o final de semana o filme não passar nos cinemas daqui, o jeito é recorrer ao mercado negro, haha!
ResponderExcluirse quiser ajuda pra encontrar link, só falar, haha. sou muito a favor dos downloads.
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