domingo, 11 de março de 2012

o melhor filme de 2011: Drive


Drive
direção: Nicolas Winding Refn
elenco: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Albert Brooks, Bryan Cranston

 
Finalmente, após um longo atraso, o melhor filme do ano passado chegou aos cinemas brasileiros. Drive, produção americana dirigida pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn (de Valhalla Rising), não esteve sequer indicado entre as principais categorias do Oscar (foi limitado às estatuetas de Som e Mixagem de Som, mas perdeu ambas). Creio que, ironicamente, isso poderá até inflar a sua aura cult daqui pra frente. Há males que vem para o bem. De qualquer forma, o longa já ganhou cerca de 40 vezes em outras premiações pelo mundo.


Baseado em um romance homônimo de James Sallis, Drive mostra a vida de um personagem sem-nome, chamado no livro de Piloto e no filme de kid (garoto), sendo virada de cabeça pra baixo. O Piloto (Ryan Gosling) não tem uma rotina tão pacata assim (ele atua como dublê em fimes, e, como extra, presta serviço como motorista para criminosos, embora ele não porte armas e nem se envolva efetivamente com a ação). A confusão começa quando ele tenta ajudar o marido ex-presidiário (Oscar Isaac) de sua vizinha, Irene (Carey Mulligan), por quem ele desenvolveu um grande afeto enquanto o cara ainda estava preso. A partir daí, a história vai rolando de forma cíclica e ligando todos os personagens com uma esperteza brilhante e um clima de suspense de tirar o fôlego. Tudo através de seqüencias lentas, mas nem por isso menos dinâmicas. Elas atuam a favor do enredo. Um roteiro brilhantemente adaptado por Hossein Amini.

O protagonista, é um daqueles irresistíveis caras solitários, introspectivos e caladões, que de vez em quando esboça uns traços de sensibilidade, mas que não se importa em usar a violência para fazer justiça com as próprias mãos ou para proteger quem eles gostam. Lembrou de filmes estrelados por Charles Bronson, Steve McQueen e Clint Eastwood na década de 1960/1970? Pois é. Drive inteligentemente bebe desta nostálgica fonte (algo que faz lembrar também os trabalhos de Quentin Tarantino) e termina colocando seu personagem sem-nome, o piloto, na galeria de anti-heróis cheio de testosterona do cinema como Dirty Harry, Bullitt e, por que não, o taxi-driver de Scorsese, Travis Bickle. Sem contar que o Piloto possui um visual todo estilizado e marcante: calça jeans combinada com camiseta branca e uma jaqueta de cetim com um escorpião dourado marcado nas costas.



Aliás, este é um filme que nasceu para ser cultuado. A sua minunciosa estética visual tem um apelo neo-noir irresistível. Uma mixagem de som de ponta, uma fotografia bem cuidada e uma iluminação atenta: dentre os quesitos técnicos, esses são os fatores que primeiramente saltam aos olhos e ouvidos do espectador durante a projeção de Drive. Mais do que impressionar, a eficiente trilha-sonora de Cliff Martinez, cheia de sintetizadores, tornam esses elementos envolventes. Alie isso à direção hábil, segura e renovadora de Nicolas Winding Refn e você tem cenas memoráveis e marcantes. A principal delas é a seqüencia no elevador em que o Piloto da um último beijo em Irene (Carey Mulligan) e ao mesmo tempo a protege e mata um dos enviados de Bernie (Albert Brooks) que tinha a missão de matá-los. Uma tradução perfeita da sutil delineação do Piloto entre o seu adormecido lado vulnerável e uma explosão de fúria advinda do seu senso protetor. Inesquecível.

 

Ryan Gosling conduz seu personagem com o cuidado necessário para evitar que ele caia no estereótipo de filmes do gênero e para demonstrar, com sutileza, o lado mais emocional do Piloto, nos momentos em que o próprio não consegue mais esconder. O Piloto quase não tem falas, então, coube a Ryan transmitir sua profundidade psicológica apenas com feições e reações faciais. Um trabalho magnífico. Assim como Albert Brooks, um ator com longa experiência em comédia, no papel do mafioso Bernie Rose. Carey Mulligan e Bryan Cranston possuem papéis menores, mas ainda assim, dão conta do recado com performances brilhantes. 



Vencedor da Palma de Ouro de Melhor Diretor em Cannes e ovacionado de pé pelo júri após sua exibição, Drive é um fôlego renovador no cinema de ação, um gênero que foi bastante desprezado e mal-tratado nas últimas décadas. Mais do que isso, dispensa efeitos visuais de última tecnologia para gerar uma experiência única e surpreendente para apreciadores de um cinema bem feito, seja em qualquer gênero de filme.

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