sábado, 31 de março de 2012

Weekend Movies: Heleno


Heleno
direção: José Henrique Fonseca
elenco: Rodrigo Santoro, Alinne Moraes, Erom Cordeiro, Angie Cepeda



sinopse: O jogador de futebol Heleno de Freitas (Rodrigo Santoro) era considerado o príncipe do Rio de Janeiro dos anos 40, numa época em que a cidade era um cenário de sonhos e promessas. Sendo ao mesmo tempo um gênio explosivo e apaixonado nos campos de futebol, além de galã charmoso nos salões da sociedade carioca, tinha certeza de que seria o maior jogador brasileiro de todos os tempos. Mas seu comportamento arredio, sua indisciplina e a doença (sífilis) foram minando o que poderia ser uma grande jornada de glória, transformando-a numa trágica história.


análise: O belo Rio de Janeiro da década de 1940 capturado por uma fotografia em preto-e-branco, ora granulada, com a voz de Billie Holiday ao fundo. Esse é o majestoso visual que caracteriza o filme Heleno. Embora sirva para ampliar os momentos de glamour de seu protagonista (e assim mostrar por quê ele era comparado a Rita Hayworth), tal requinte técnico também se mostra potente ao se tornar vertiginoso e claustrofóbico para retratar as horas de desespero do jogador de futebol mais famoso de sua época.


Pena que tal rigor estilístico, tão bem coordenado pelo diretor José Henrique Fonseca (da série da HBO Mandrake), esteja a cargo de um roteiro tão inconsistente. Heleno de Freitas é apresentado aos espectadores já em seu declínio. Sua loucura é intercalada com os seus momentos de auge em flashback. Tanto a sua infância quanto o começo de sua carreira são ignorados pelo enredo. Ao invés disso, temos um triângulo amoroso com ares de novela das oito que predomina na primeira metade do filme. Trata-se de Heleno envolvido com Silvia (Alinne Moraes), mãe de seu único filho, e paralelamente com a cantora argentina Diamantina (Angie Cepeda), em um tórrido relacionamento extraconjugal. Embora tenha sido uma invenção do roteiro, de fato Heleno era famoso por sua fama de conquistador, o que o levou a contrair sífilis, doença que fez com que o jogador terminasse em um sanatório. Mas, enquanto a colombiana Angie Cepeda (de Pantaleão e as Visitadoras) é uma boa presença no longa, Alinne Moraes não surpreende ao limitar-se a uma atuação apenas mediana. É justo reconhecer que talvez Alinne tenha sido prejudicada por um trabalho de maquiagem não muito eficaz: a sensação é de que os anos se passaram para todos os personagens, menos para a sua Silvia.


A segunda metade de Heleno já foca mais na queda do jogador, a medida que a doença e o vício em álcool vão progredindo. E nessas horas, o filme cresce. José Henrique abusa de enquadramentos e closes dilacerantes que só evidenciam o irretocável desempenho de Rodrigo Santoro, que agrega mais uma atuação brilhante à sua coleção. Tudo isso em meio a fumaça de cigarros. Muita fumaça de cigarros.


A sensação final é de que o filme tinha tudo nas mãos para fazer um gol de placa: uma bela fotografia, uma espetacular reconstituição de época, uma direção segura e um protagonista bastante eficiente. Mas, graças ao roteiro que tenta fazer diferente das biografias em geral e termina desperdiçando turning points e carecendo de envolvimento, Heleno apenas bate na trave.

domingo, 25 de março de 2012

Weekend Movies: Jogos Vorazes


The Hunger Games/ Jogos Vorazes
direção: Gary Ross
elenco: Jennifer Lawrence, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Stanley Tucci

 
sinopse: Num futuro distante, boa parte da população é controlada por um regime totalitário, que relembra esse domínio realizando um evento anual - e mortal - entre os 12 distritos sob sua tutela. Para salvar sua irmã caçula, a jovem Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) se oferece como voluntária para representar seu distrito na competição e acaba contando com a companhia de Peeta Melark (Josh Hutcherson), desafiando não só o sistema dominante, mas também a força dos outros oponentes. Mas somente um dos participantes poderá sobreviver ao torneio.


análise: A distopia defendida por Jogos Vorazes encontra reflexos nas previsões cheias de ironia e nada animadoras feitas pelo escritor George Orwell através de clássicos como 1984. Trata-se da sociedade totalitária que se entretém com a desgraça de seus semelhantes desfavorecidos. The Hunger Games (no original), é baseado na trilogia best-seller de Suzanne Collins e desponta como o favorito para o ocupar o lugar de Crepúsculo e Harry Potter na preferência do público jovem. Em comparação à essas duas franquias, Jogos Vorazes, o filme, entra em campo com vantagens. Além de entreter, a história oferece nítidas possibilidades de crítica e reflexão através do contraste entre o futurismo de Panem, local fictício onde o filme se passa, e os hábitos atuais da sociedade em que vivemos.


A direção do norte-americano Gary Ross (de Pleasantville) nos envolve em um espetáculo que, claro, faz concessões ao cinemão blockbuster, mas também é audacioso o bastante para mostrar inteligência. Aqui, o já batido recurso de câmera trepidante se renova e amplia a eficiência da montagem nos momentos de ação. A protagonista Katniss, interpretada por Jennifer Lawrence, é apresentada à platéia através de uma delicada e bem-elaborada sequência de caça em uma floresta. Com um desempenho vigoroso, Jennifer Lawrence (já indicada ao Oscar por Inverno na Alma) oferece todo o seu carisma e beleza a Katniss, tornando-a irresistível. Trata-se de um jogo onde não há lado do bem ou do mal, todos lutam por um mesmo objetivo e em condições semelhantes. Mesmo que o longa não nos mostrasse tudo sob a ótica de Katniss, seria impossivel escolher outro personagem para torcer. Mais do que meros espectadores, viramos peça do tabuleiro sob a pele dela, vivendo em um futuro onde a alta sociedade é caracterizada pelo kitsch, ponto alto de um interessante trabalho de direção de arte. Em certos momentos, Katniss até foge do comum  e ganha ares de anti-heroína: não tem pudor de matar, se vingar ou de dar o que a audiência dos jogos (ou será do filme?) quer.


Tendo em mãos um roteiro que contou com a colaboração da própria escritora Suzanne Collins, Gary Ross resiste à tentação de apelar para a extrema violência ou uma ação ininterrupta, oferecendo assim uma produção que, em meio a diversão e o suspense, também consegue ser crítica, sensível e até lúdica. Jogos Vorazes é um caso raro de entretenimento com apelo adolescente, mas de qualidade.

domingo, 18 de março de 2012

Weekend Movies: Compramos um Zoológico


 We Bought a Zoo/ Compramos um Zoológico
direção: Cameron Crowe
elenco: Matt Damon, Scarlett Johansson, Elle Fanning, Thomas Haden Church


O diretor americano Cameron Crowe tem a sua filmografia marcada por personagens que buscam submeter-se a uma grande virada em um momento crítico. Seja o Jerry Maguire interpretado por Tom Cruise no filme homônimo de 1996, ou o jovem jornalista, vivido por Patrick Fugit, que mergulha de cabeça nos bastidores da turnê de um grupo de rock em Quase Famosos (2000). Ou ainda o quase suicida Orlando Bloom que encontra um novo sentido na vida ao voltar para a cidadezinha onde cresceu em Tudo Acontece em Elizabethtown (2005). Em Compramos um Zoológico (2011), quem opta por uma guinada como plano de fuga é o recém-viúvo Benjamin (interpretado por um Matt Damon meio rechonchudo). Sua esposa faleceu há seis meses e ele encontra dificuldades para lidar com os filhos e o trabalho. Benjamin resolve então largar tudo e se mudar com a família para o interior, comprando uma propriedade que inclui um zoológico à beira da falência. Até os próprios funcionários do local acham a idéia de Benjamin um tanto absurda, mas, não poupam esforços para ajudá-lo a reerguer o empreendimento. Dentre os empregados, temos a zeladora Kelly (Scarlett Johansson) que se envolve com o novo proprietário.


 Visivelmente concebido como um típico filme para as férias de final-de-ano, Compramos um Zoológico cumpre esse objetivo, mas peca por falta de ambição. Não se priva de alguns clichês do gênero, como a atribulada relação pai-e-filho, que é analisada superficialmente; o foco no urso selvagem que sempre foge e no tigre que sempre adoece; e a descoberta do amor na fase pré-adolescente vivida entre o filho (Colin Ford) e uma das jovens funcionárias do zoológico (a bela Elle Fanning, a irmã de Dakota). O filme também abandona a relação homem-e-animal para focar na família atravessando os estágios da perda, o que é uma boa idéia, porém, mal desenvolvida. Matt Damon está bem confortável no papel de pai de família. Se por um lado falta química no romance com Scarlett Johansson, suas cenas com a filha, interpretada por Maggie Elizabeth Jones, rende bons momentos. A trilha sonora, composta pelo músico Jónsi (líder da banda islandesa Sigur Rós) valoriza bastante as belas seqüencias filmadas na California, e é o ponto mais envolvente do filme.


Baseado no romance auto-biográfico de Benjamim Mee, Compramos um Zoológico carece da poesia e da emoção tão características nos longas anteriores de Cameron Crowe. É notável uma certa falta de foco, mas nada com grandes perdas e danos. Termina simpático e com potencial para futuro clássico sessão-da-tarde.

sábado, 17 de março de 2012

Weekend Movies: Hunger


Hunger
direção: Steve McQueen
elenco: Michael Fassbender, Liam Cunningham, Stuart Graham, Liam McMahon

 
Atualmente em cartaz com Shame, a parceria entre o diretor Steve McQueen e o ator Michael Fassbender teve início em Hunger. Já neste filme, de 2008, McQueen oferece as longas seqüências que transformam o espectador em verdadeiro voyeur da situação; revela um fetichismo físico pelo seu ator principal; e garante o envolvimento visual da platéia com cenas pesadas mas sutilmente filmadas. As mesmas características que posteriormente permitiram a Shame obter polêmica e elogios em (altos) níveis equiparados. Mas em Hunger assistimos de camarote a degradação física e psicológica de Bobby Sands (Fassbender), um terrorista do IRA que é detido numa prisão de segurança máxima na Irlanda do Norte e decide protestar a favor do status de crime político negado pelo governo britânico. Para isso, ele usa a única arma que tem: o seu corpo.


 Bobby entra numa longa greve de fome, através da qual exercitará os limites sobrehumanos. Por sua vez, McQueen faz questão de que nós acompanhemos passo a passo essa deterioração, através de um olhar muncioso e distante, mas nem por isso, menos impactante. Tudo valorizado pela impressionante composição de personagem feita por Michael Fassbender, num desempenho soberbo. Desde o início, que mostra o ponto de vista e o dia-a-dia de um dos guardas da prisão; passando pela longa conversa de 17 minutos em um único take entre Bobby Sands e um padre (Liam Cunningham), que tenta fazê-lo desistir da greve; até os últimos momentos de vida do detento, Hunger destila uma série de seqüências memoráveis e extremamente sensoriais. Cada sentimento dos personagens tem a capacidade de ecoar fora da tela. É a prova de que a dobradinha McQueen-Fassbender é mesmo mágica.

Weekend Movies: Habemus Papam



 Habemus Papam 
direção: Nanni Moretti
elenco: Michel Picolli, Nanni Moretti, Renato Scarpa, Jerzy Stuhr. 

 

Estreou ontem o mais recente trabalho do cineasta italiano Nanni Moretti, dono de obras incensadas pela crítica como Caro Diário (1994) e O Quarto do Filho (2000). A característica visão irônica do diretor também está presente em Habemus Papam (2011), um filme extremamente corajoso e autêntico que mergulha na intocável estrutura católica para mostrar a figura suprema da Igreja em plena crise existencial. Após a morte do Papa, o cardeal Melville (Michel Picolli) é o escolhido pelo conclave do Vaticano como seu sucessor. Logo na nomeação, Melville entra em crise por achar que não corresponde às expectativas de seus colegas e de Deus. Entra então em cena o psicanalista interpretado pelo próprio Nanni Moretti, com a função de tratar psicologicamente o novo Papa.


 
O roteiro, também de Moretti (que é assumidamente ateu), espertamente opta por não defender nem o catolicismo, nem a psicanálise. Ambos são alvos de críticas e de um olhar sarcástico, sempre divertidos. A profundidade emocional da história, no entanto, recai sobre a posição de Melville. É revelado ao espectador que ele, na verdade, sempre gostou de teatro e sonhava ser ator, embora não tivesse aptidão. O novo papa passa a refletir a respeito de sua realização pessoal - análise esta que facilmente contagia quem o assiste. Essa angústia do personagem é potencializada pelo esplêndido desempenho do grande ator francês Michel Picolli (dos clássicos A Bela da Tarde, O Desprezo e Esse Obscuro Objeto do Desejo), aos 86 anos e em plena forma. Além disso, a sempre competente mão de Nanni Moretti valoriza a rica fotografia e nos oferece takes visualmente belíssimos. Intitulado com uma expressão em latim que significa "temos um papa", Habemus Papam oferece uma inteligente experiência, ao mesmo tempo divertida e reflexiva, independente da orientação religiosa do espectador.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Michael Fassbender

Graças a sua performance em Shame (que estréia hoje nos cinemas do Brasil) Michael Fassbender foi um dos atores mais elogiados pela crítica em 2011. E, junto com Ryan Gosling, foi vítima de um injusto descaso da Academia do Oscar. Mas, este ator alemão de 34 anos já chamava atenção em vários projetos ao longo de sua carreira, por isso, achei válido fazer um rápido panorama de sua (eclética) filmografia. 


Depois de um papel pequeno em 300, de Jack Snyder, Michael Fassbender conseguiria seu primeiro protagonista em Hunger (2008), também o primeiro filme de Steve McQueen, com quem o ator voltaria a trabalhar em Shame. Ele interpretou Bobby Sands, um terrorista detento que liderou uma greve de fome em uma prisão na Irlanda do Norte e que pela qual estava disposto a levar tudo até os limites da capacidade humana. Para o papel, Michael emagreceu 16 quilos. Seu esforço lhe garantiu 6 prêmios, incluindo o de Melhor Ator pela associação de críticos de Londres. Fassbender e o ator Liam Cunningham dividiram um apartamento por algumas semanas, com o objetivo de treinar a cena, de 17 minutos, em que o padre interpretado por Liam tenta desestimular Bobby de fazer a greve. Os atores treinavam a sequência cerca de vinte vezes por dia. Hunger foi baseado em uma história real. 


O independente Fish Tank (Aquário, 2009), de Andrea Arnold, contribuiu para que Fassbender estabelecesse um prestígio perante a crítica inglesa e o cinema alternativo. Isso consequentemente levou Quentin Tarantino a escalá-lo em Inglorious Bastards (Bastardos Inglórios, 2009), para o papel do tenente Archie Hicox. Este é até hoje o filme de maior bilheteria de Tarantino e projetou o nome de Michael Fassbender no mercado norte-americano. Para atingir o objetivo de Tarantino, de dar a Archie um estilo parecido com o do ator George Sanders, Fassbender mergulhou em filmes da década de 1930 e 1940, captando um certo orgulho natural que emanava dos astros americanos naquela época.  


Em 2011, Fassbender fez par romântico com Mia Wasikowska (a Alice de Tim Burton) na 17ª adaptação para o cinema do clássico romance de Charlotte Brontë, Jane Eyre. Seu Edward Farfaix ganhou um ar natural de sedução e magnetismo, dando um diferencial para o longa dirigido por Cary Joji Fukunaga. O diretor, aliás, afirma ter percebido o espírito de Edward em Fassbender logo na seleção do elenco. Na época, Michael Fassbender afirmou que a forte admiração de sua mãe e de sua irmã pelo romance foi a primeira coisa que o motivou a fazer o filme.  


Michael Fassbender definitivamente atravessaria a barreira do mainstream hollywoodiano ao interpretar o jovem Magneto de X-Men: First Class (X-Men: Primeira Classe, 2011). A revista Entertainment Weekly classificou sua performance como “cool, intensa, suave e livre de afetações”, além de identificar um poder natural de “star magnetism” no ator. Fassbender afirma ter assistido o trabalho de Ian McKeller como Magneto nos outros filmes da série X-Men, mas optou dar novas nuances e um aspecto pessoal para deixar o seu personagem acima dos maniqueísmos.

 
Ainda em 2011, Fassbender esteve nas mãos do cultuado diretor David Cronenberg em A Dangerous Method (Um Método Perigoso), no papel do psicanalista Carl Jung. O filme explora o relacionamento extraconjugal de Carl com uma de suas pacientes, Sabina Spielrein (Keira Knightley) e a sua amizade com Freud (Viggo Mortensen). Quanto às teorias de Jung e Freud, Michael Fassbender se diz identificar mais com o lado Junginiano de ver as coisas: “Eu acredito que tudo é possível e muitas coisas no mundo são inexplicáveis (...) Eu gosto de pensar que há muito mistério por aí; a idéia de interconectividade”. 


Não foram só as cenas de nudez frontal que atraíram os olhos da crítica para Shame: a impressionante tour-de-force desempenhada por um Michael Fassbender livre de pudores, gerou uma aclamadíssima performance. O filme pode causar polêmica e dividir opiniões por onde passa, mas os elogios pela irretocável atuação de Fassbender como Brandon, um homem viciado em sexo, é sempre um consenso geral. Esta segunda parceria com o diretor Steve McQueen rendeu ao ator cerca de 16 prêmios, dentre eles o da Associação de Críticos de Los Angeles. Foi também indicado ao Globo de Ouro e o BAFTA, e era um dos favoritos ao Oscar. Segundo McQueen, “Os Estados Unidos tem muito medo de sexo” e seria a justificativa para a não-indicação de Fassbender pela Academia. Sobre ficar sem roupas diante das câmeras, Fassbender declarou: “O problema é com a idéia do nu masculino. Isso me deixa perplexo: mulheres desfilam nuas o tempo todo, mas o cara, convenientemente, está sempre de calças. Eu me lembro da minha mãe sempre reclamando disso: ‘Isso é injusto, são sempre as mulheres que estão nuas’... Então... eu fiz isso por você, mãe!”. Dentre os vários elogios ao trabalho de Michael Fassbender em Shame, um dos mais notáveis (e cômicos) foi o de George Clooney na entrega do Globo de Ouro: “Fassbender... você pode jogar golfe sem usar as mãos”. 


Vale a pena ficar de olhos atentos em Michael Fassbender durante 2012: o ator integra o elenco estelar do novo filme de Steven Soderbergh, Hayware, que conta com nomes como Ewan McGregor, Michael Douglas, Antonio Banderas, Bill Paxton e Channing Tatum, e cuja estréia nos cinemas brasileiros está prevista para o dia 20 de abril. Fassbender também estará nos novos projetos de Ridley Scott (Prometheus, com Noomi Rapace, e ainda The Counselor), Brendan Gleeson (estreando como diretor em At Swim-Two-Birds) e Steve McQueen (Twelve Years a Slave, que será o terceiro projeto consecutivo do diretor que é protagonizado por Michael). 

quarta-feira, 14 de março de 2012

Quanto mais Marilyn melhor

A estréia de Sete Dias Com Marilyn nos cinemas brasileiros foi adiada pela terceira vez. A nova data está marcada para 27 de abril. De qualquer forma, o filme já está disponível em ótima qualidade para download via torrent. Selecionei alguns cartazes e imagens de divulgação, bem interessantes, que evidenciam a caracterização da atriz Michelle Williams (de Blue Valentine) no ícone Marilyn Monroe:











Baseado no romance auto-biográfico de Colin Clark e dirigido por Simon Curtis, Sete Dias com Marilyn (My Week With Marilyn, no original), recebeu duas indicações ao Oscar: Melhor Atriz para Michelle Williams e Melhor Ator Coadjuvante para Kenneth Branagh.

terça-feira, 13 de março de 2012

Wes Anderson abre o Festival de Cannes

Mais uma novidade referente ao Festival de Cannes, que ocorrerá entre 16 e 27 de maio deste ano. Depois de divulgarem o diretor italiano Nanni Moretti como presidente do júri e o pôster oficial estampado por Marilyn Monroe, a produção do festival anunciou o filme de abertura.

Trata-se de Moonrise Kingdom, dirigido por Wes Anderson (de Os Excêntricos Tenenbaums e A Vida Marinha com Steve Zissou). O roteiro é uma colaboração entre o próprio diretor e Roman Coppola, filho do cineasta Francis Ford Coppola e irmão da diretora Sofia Coppola. É a segunda parceria entre Wes e Roman: eles também escreveram o roteiro de Viagem a Danjeerling (2007).


cartaz oficial do filme

Moonrise Kingdom tem no elenco nomes famosos como Bruce Willis, Francis McDormand, Bill Murray, Edward Norton, Tilda Swinton, Harvey Keitel, Bob Balaban e Jason Schwartzman. Mas quem protagonizará a história será o casal de estreantes Jared Gilman e Kara Hayward. 


Kara Hayward e Jared Gilman

Passada na década de 1960 e ambientado numa ilha na costa da Nova Inglaterra, o filme mostra um casal de namorados que foge sem avisar a ninguém. A população da cidadezinha desconfia de que eles foram sequestrados, e, a partir disso, não movem esforços para recuperá-los. Os pais dos jovens são interpretados por Francis McDormand e Bill Murray. A trilha-sonora estará a cargo do midas Alexandre Desplat.


Bill Murray, Francis McDormand e Bruce Willis

A estréia norte-americana está prevista para 25 de Maio. Já em relação aos cinemas brasileiros, ainda não há previsão de lançamento.


fonte: The Hollywood Reporter

segunda-feira, 12 de março de 2012

Weekend Movies: Os Muppets; Não Me Abandone Jamais; Tomboy


The Muppets/ Os Muppets
direção: James Bobin
elenco: Jason Segel, Amy Adams, Chris Cooper, Jack Black


Gosto quando os estúdios decidem fazer revival de atrações antigas, principalmente, claro, se eu era fã delas, como é o caso de Os Muppets. Mas aí sempre vem o problema: o público-alvo. Os produtores vão optar pelos antigos fãs, que hoje já são adultos, e investir na nostalgia ou vão preferir angariar novos espectadores, modernizando a história? Geralmente eles optam por mesclar os dois tipos de público (o que é a pior saída). Os Muppets não foge à regra. Talvez por tentar atingir as crianças menores, o filme tenha diminuído as gags que faziam tanto sucesso na série, que naturalmente atingia um público mais crescido. O longa começa com uma deslocada estética retrô (mas até interessante), que vai se perdendo ao longo do filme. O comediante Jason Segel, que vive Gary, o protagonista humano, parece até uma cópia barata do lendário Dick van Dyke, ator de musicais da década de 1960. Aliás, Jason tem um currículo de comédias em que ele é sempre o cara mala, o todo-errado da história. Aqui ela força demais uma simpatia e o resultado um tanto irritante. Amy Adams, que faz a sua namorada, Mary, é pouco explorada e sua trama vai sumindo aos poucos. Do elenco carne-e-osso, quem visivelmente se diverte e, por tabela, alegra o público, é Chris Cooper como Tex Richman, o grande vilão da história. Já o elemento novo dentre os bonecos é Walter, irmão de Jason (sim! irmão!), grande fã dos Muppets que se propõe a salvar o teatro do grupo antes que ele caia na mão de Tex Richman, que quer a propriedade só pelo petróleo que está abaixo dela. A relação entre Jason e Walter esboça até uma crise existencial no começo, mas depois é esquecida. Talvez esse seja o problema de Os Muppets: um excesso de tramas paralelas. Deixem os bonecos brilharem sozinhos! Porque isso, eles fazem muito bem... Caco, Gonzo, Animal, Fozzie e todos os outros estão em perfeita forma. Principalmente a diviníssima Miss Piggy, que agora tem os cabelos lisos e é editora da revista Vogue, na seção plus-size! Uma paródia maravilhosa de O Diabo Veste Prada, que tem até a participação de Emily Blunt, que fazia a secretária da Meryl Streep no filme. E o que mais se esperaria de um filme com os Muppets? Boas músicas (grande parte a cargo de Bret McKenzie, inclusive vencedor do Oscar) e uma salada de cameos. Tem para todos os gostos: Whoopi Goldberg, a cantora Feist, Selena Gomez, Alan Arkin, Zach Galifianakis, Neil Patrick Harris (da série The Big Bang Theory), John Krasinski (de The Office) e Jack Black, que, de todos, é o que mais interage com os bonecos. Os Muppets funciona como uma boa diversão passatempo, mas, no fundo, a gente sabe que poderia ser muito mais. Principalmente se abusassem das referências e focassem em suprir a sede nostálgica dos antigos fãs da série.



Never Let Me Go/ Não Me Abandone Jamais
direção: Mark Romanek
elenco: Carey Mulligan, Andrew Garfield, Keira Knightley, Charlotte Rampling


Baseado no best-seller de Kazuo Ishiguro, Never Let Me Go é uma mistura entre romance e ficção científica, que mostra a saga de Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), três amigos que se conhecem em um colégio especial para crianças clonadas que têm a única função de, no futuro, servirem como doadores de órgãos. O filme atravessa a infância, a adolescência e a fase adulta do trio, mostrando também o inevitável envolvimento sentimental que vai se desenrolando ao longo dos anos. Para torna-lá bastante verossímil, o diretor inglês Mark Romanek (premiado por videoclipes de Johnny Cash, Madonna e Fiona Apple) trouxe a história para um universo o mais normal possível, utilizando uma ambientação bem próxima da realidade. Tem lindas sequencias filmadas na Inglaterra e uma bela fotografia com uma palheta de cores praticamente monocromática. Além disso, Mark tenta a todo momento evitar um possível melodrama, através de uma condução fria e melancólica, mas bastante séria, que infelizmente vai se tornando apática do meio pro final. Aliás, o começo do filme, que retrata a infância do trio, é, sem dúvida a mais envolvente de todas. Gera inclusive uma sequência memorável: quando Kathy ganha de Tommy uma fita cassete de uma cantora fictícia Judy Bridgewater (na verdade, a canção-título Never Let Me Go é interpretada por Jane Monheit). O roteiro é bem interessante, faz uma análise crítica ao progresso da ciência e à sociedade, algo meio no estilo George Orwell. E também não entrega tudo de mão beijada, o espectador vai descobrindo aos poucos o futuro pré-destinado dos personagens. Uma pena que as coisas pareçam meio fora de rumo justamente após uma revelação feita por Ruth, que é fundamental para o desfecho do enredo. Dos três atores, Carey Mulligan (de Drive e Shame) se destaca positivamente e, pra mim, só se reafirma como um dos melhores nomes dessa nova safra de atrizes. Ela faz um ótimo elo com a atriz Isobel Meikle-Small, que interpreta sua personagem quando criança. Never Let Me Go tem um potencial poético enorme, através do paralelo entre amor e morte, que infelizmente se torna diluído pelo extremo cuidado em manter o filme acima do sentimentalismo. É ótimo fazer as coisas de uma forma clean e classy, mas não a ponto de barrar o envolvimento emocional do espectador.  



Tomboy
direção: Celine Sciamma
elenco: Zoé Heran, Malonn Levana, Mathieu Demy, Jeanne Disson


Pra começo de conversa, tomboy é uma gíria para denominar meninas que possuem comportamento de menino, algo bem moleque mesmo. É esse assunto delicado, já indicado pelo título, que a diretora Celine Sciamma aborda neste longa vencedor do Teddy Bear (o prêmio do Festival de Berlim dedicado a filmes com temática gay). O roteiro, também da autoria de Celine, conta a história de Laure (Zoe Haran), uma garota de dez anos que se muda com a família para o subúrbio, durante as férias de verão. Para as crianças da nova vizinhança, ela decide se apresentar como Michael e então, adota um comportamento masculino da frente delas. Algo que não é muito difícil, já que Laure tem o cabelo bem curto, só usa bermuda e camiseta e tem trejeitos de garoto, numa fase em que o corpo ainda é algo naturalmente bem andrógino. Bom, duas coisas saltam aos olhos em Tomboy: a competência impressionante da performance de Zoe Haran no papel principal. Inclusive, no começo do filme, você fica sem saber ao certo o sexo da personagem. Aliás, todas as crianças atuam muito bem. Inclusive, a diretora selecionou amigos da vida de real de Zoe para os papéis coadjuvantes. Tudo para tornar o clima mais real o possível. Para este fim, Celine Sciamma também optou por locações reais e sons naturais ao invés de uma trilha-sonora convencional. Outro aspecto evidente no longa é a delicadeza com que Celine conduz a história. Tudo é tratado com muito cuidado e respeito. E a família, que geralmente faz o papel de vilão nesse tipo de filme, embora não questione diretamente o comportamento de Laure, a respeitam e a aceitam numa boa. O pai até parece se divertir com isso. A irmã gosta de ter um irmão mais velho para protegê-la. E o próprio rompante emocional da mãe nas sequencias finais é algo normal e justificável. Com naturalidade e leveza, Tomboy foge do espírito militante que segue a maioria dos filmes de temática gay. Aliás, é sobretudo um filme sobre o universo infantil. Dispensa tanto sequencias chocantes quanto uma estética fairytale para suscitar discussões profundas como a diferença entre a alma e a forma do corpo e a origem da influencia comportamental e sexual dos indivíduos.

domingo, 11 de março de 2012

o melhor filme de 2011: Drive


Drive
direção: Nicolas Winding Refn
elenco: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Albert Brooks, Bryan Cranston

 
Finalmente, após um longo atraso, o melhor filme do ano passado chegou aos cinemas brasileiros. Drive, produção americana dirigida pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn (de Valhalla Rising), não esteve sequer indicado entre as principais categorias do Oscar (foi limitado às estatuetas de Som e Mixagem de Som, mas perdeu ambas). Creio que, ironicamente, isso poderá até inflar a sua aura cult daqui pra frente. Há males que vem para o bem. De qualquer forma, o longa já ganhou cerca de 40 vezes em outras premiações pelo mundo.


Baseado em um romance homônimo de James Sallis, Drive mostra a vida de um personagem sem-nome, chamado no livro de Piloto e no filme de kid (garoto), sendo virada de cabeça pra baixo. O Piloto (Ryan Gosling) não tem uma rotina tão pacata assim (ele atua como dublê em fimes, e, como extra, presta serviço como motorista para criminosos, embora ele não porte armas e nem se envolva efetivamente com a ação). A confusão começa quando ele tenta ajudar o marido ex-presidiário (Oscar Isaac) de sua vizinha, Irene (Carey Mulligan), por quem ele desenvolveu um grande afeto enquanto o cara ainda estava preso. A partir daí, a história vai rolando de forma cíclica e ligando todos os personagens com uma esperteza brilhante e um clima de suspense de tirar o fôlego. Tudo através de seqüencias lentas, mas nem por isso menos dinâmicas. Elas atuam a favor do enredo. Um roteiro brilhantemente adaptado por Hossein Amini.

O protagonista, é um daqueles irresistíveis caras solitários, introspectivos e caladões, que de vez em quando esboça uns traços de sensibilidade, mas que não se importa em usar a violência para fazer justiça com as próprias mãos ou para proteger quem eles gostam. Lembrou de filmes estrelados por Charles Bronson, Steve McQueen e Clint Eastwood na década de 1960/1970? Pois é. Drive inteligentemente bebe desta nostálgica fonte (algo que faz lembrar também os trabalhos de Quentin Tarantino) e termina colocando seu personagem sem-nome, o piloto, na galeria de anti-heróis cheio de testosterona do cinema como Dirty Harry, Bullitt e, por que não, o taxi-driver de Scorsese, Travis Bickle. Sem contar que o Piloto possui um visual todo estilizado e marcante: calça jeans combinada com camiseta branca e uma jaqueta de cetim com um escorpião dourado marcado nas costas.



Aliás, este é um filme que nasceu para ser cultuado. A sua minunciosa estética visual tem um apelo neo-noir irresistível. Uma mixagem de som de ponta, uma fotografia bem cuidada e uma iluminação atenta: dentre os quesitos técnicos, esses são os fatores que primeiramente saltam aos olhos e ouvidos do espectador durante a projeção de Drive. Mais do que impressionar, a eficiente trilha-sonora de Cliff Martinez, cheia de sintetizadores, tornam esses elementos envolventes. Alie isso à direção hábil, segura e renovadora de Nicolas Winding Refn e você tem cenas memoráveis e marcantes. A principal delas é a seqüencia no elevador em que o Piloto da um último beijo em Irene (Carey Mulligan) e ao mesmo tempo a protege e mata um dos enviados de Bernie (Albert Brooks) que tinha a missão de matá-los. Uma tradução perfeita da sutil delineação do Piloto entre o seu adormecido lado vulnerável e uma explosão de fúria advinda do seu senso protetor. Inesquecível.

 

Ryan Gosling conduz seu personagem com o cuidado necessário para evitar que ele caia no estereótipo de filmes do gênero e para demonstrar, com sutileza, o lado mais emocional do Piloto, nos momentos em que o próprio não consegue mais esconder. O Piloto quase não tem falas, então, coube a Ryan transmitir sua profundidade psicológica apenas com feições e reações faciais. Um trabalho magnífico. Assim como Albert Brooks, um ator com longa experiência em comédia, no papel do mafioso Bernie Rose. Carey Mulligan e Bryan Cranston possuem papéis menores, mas ainda assim, dão conta do recado com performances brilhantes. 



Vencedor da Palma de Ouro de Melhor Diretor em Cannes e ovacionado de pé pelo júri após sua exibição, Drive é um fôlego renovador no cinema de ação, um gênero que foi bastante desprezado e mal-tratado nas últimas décadas. Mais do que isso, dispensa efeitos visuais de última tecnologia para gerar uma experiência única e surpreendente para apreciadores de um cinema bem feito, seja em qualquer gênero de filme.