segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Weekend Movies (A Dangerous Method; Take Shelter; Anonymous)



A Dangerous Method/ Um Método Perigoso

direção: David Cronenberg
elenco: Keira Knightley, Michael Fassbender, Viggo Mortensen, Vincent Cassel
cotação: 3/5

Sou fã do diretor David Cronenberg (Videodrome, A Mosca, Marcas da Violencia), e assumo que, por ter também um elenco interessante e uma sinopse promissora, fui assistir à Um Metodo Perigoso com bastante expectativa. Fiquei meio frustrado, uma pena. Achei o filme sem foco, mais uma boa intenção jogada no lixo. No elenco, temos Keira Knightley (Orgulho e Preconceito; Piratas do Caribe), que começa o longa com o seu habitual overacting, mas que, após a primeira passagem de tempo acerta o tom como Sabina Spielrein, provavelmente a personagem mais complexa que já passou pelas suas mãos; a sensação Michael Shame Fassbender fazendo um trabalho competente como Carl Jung; Viggo Mortensen, mais uma vez presente nos filmes de Cronenberg (esteve em Marcas da Violencia e Eastern Promises), como Freud (foi indicado ao Globo de Ouro pela performance); e Vincent Cassel (Irreversível; Cisne Negro) como Dr. Otto Ross, que pra mim, tem a melhor atuação do grupo. Gosto muito de Cassel, pena que ele é meio underrated pela crítica especializada. O elenco original tinha Christoph Waltz (Freud), Christian Bale (Jung) e Julia Roberts (Sabina), imagino que funcionasse melhor. Quanto à história, Um Metodo Perigoso peca por não focar justamente o aspecto mais interessante do enredo: o relacionamento entre Jung e Freud. Limita-se a uma análise superficial, apenas umas conversas e cartas trocadas. Curioso também é que não se aprofunda [ALERTA SPOILER] no caso extra-conjugal de Jung com a sua paciente, Sabina, o que faz com que certas reações ao longo da história não se tornem convincentes [/ALERTA SPOILER]. Além disso, a montagem abrupta do filme prejudica bastante. Uma montagem que nada tem de estilizado, pelo contrário, dá uma sensação de desleixo. E as passagens de tempo cortam sequencias, que, pra mim, seriam cruciais, como a cura de Sabina e a estadia de Freud na América. Mesmo com essas falhas, aquilo que é apresentado na tela é bem filmado, com uma fotografia de classe e um interessante jogo de câmeras pilotado por Cronenberg (repare nas sequencias onde Sabina é analisada). Sem dúvida, é o trabalho mais delicado dele, mas não acho que isso sirva de justificativa para a falta de surpresa e impacto, tanto visual, mas, principalmente psicológico, que seus filmes sempre causam em mim.


 
Take Shelter/ O Abrigo
direção: Jeff Nichols
elenco: Michael Shannon, Jessica Chastain, Kathy Baker, Tova Stewart
cotação: 4/5

Histórias que mostram seu protagonista num limite tênue entre a loucura e a realidade, sem diferenciá-las com precisão para quem os assiste, estão sempre presentes no cinema, principalmente desde o êxito atingido por Ingmar Bergman com Persona (1956). Take Shelter é mais um deles, porém, é um dos realmente bons. O personagem em questão é Curtis LaForche (Michael Shannon, numa interpretação irrepreensível), um pacato pai de família que vive feliz com sua esposa (Jessica Chastain) e a filha pequena, deficiente auditiva (Tova Stewart). Aparentemente do nada, Curtis começa a ter sonhos e visões assustadoras que repetem sempre os mesmos elementos: uma chuva forte, sua filha e ele mesmo sendo atingido por alguém de seu convívio, seja seu colega de trabalho, seu cachorro ou sua própria esposa. As visões se tornam mais frequentes e Curtis começa a duvidar de sua sanidade mental, suspeitando sofrer de uma esquizofrenia. Ao mesmo tempo, o roteiro vai envolvendo o espectador na atmosfera doentia do personagem. Tudo é delineado delicadamente: cada passo que Curtis vai dando em direção à loucura, cada explicação que é dada para o seu comportamento. O espectador se sente tão preso nessa insanidade claustrofóbica, que começa a duvidar, assim como Curtis, se seriam alucinações ou premonições as catástrofes apocalípticas vistas nos seus sonhos. Interessante esse caminho inverso tomado pela história, geralmente a loucura é apresentada como um desfecho, ao contrário que aqui, ela é tomada como uma primeira opção, que começa a ser posta em dúvida ao longo da narrativa. Interessante também é a personagem Samantha, esposa de Curtis, que se descobre em meio a um caos ao ter que lidar tanto com os problemas de adaptação da filha quanto com os problemas psíquicos do marido. Ela também vai variando delicadamente do comportamento comum ao desespero, numa performance arrebatadora de Jessica Chastain. É o terceiro filme seguido que assisto com Jessica onde ela faz um trabalho fenomenal (os outros foram The Help, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, e A Arvore da Vida). Vale a pena ficar de olho nela em 2012. O Abrigo se utiliza da velha questão de que “os loucos, no fundo, podem ter razão” dispensando tecnologia de ponta (há apenas duas sequencias com alguns efeitos gráficos) pra apostar num suspense psicológico com doses de drama familiar muito bem estruturado, além de optar por resoluções que impressionam os espectadores mais céticos. Ótimo filme.



Anonymous/ Anônimo
 
direção: Roland Emmerich
elenco: Rhys Ifans, Vanessa Redgrave, Joely Richardson, David Thewlis
cotação: 3/5

Roland Emmerich é um diretor que tem o seu nome ligado à blockbusters com muita explosão e barulho, como Independence Day, Godzilla e o sofrível 2012. Em Anônimo, ele opta por deixar toda essa parafernália de lado e permitir que a história em si seja o único meio pra prender a atenção do espectador – ele já havia ensaiado tal tentativa em O Patriota, com Mel Gibson, que aliás, é o único filme de Emmerich que gosto. Mas, ao contrário deste, Anônimo capotou nas bilheterias: estreou em Outubro do ano passado nos EUA e até agora não cobriu seus custos. Já a crítica, mostra-se bem dividida. O filme fala sobre a sempre polêmica teoria de que William Shakespeare não escreveu os seus próprios livros. Ao longo dos séculos, vários autores foram sugeridos e desmentidos, dentre eles Edward de Vere, conde de Oxford – linha de raciocínio pela qual o roteiro opta. Eu acho a premissa interessante, mas, dando uma olhada na Wikipedia, descobri que a licença poética rola solta no filme, já que de Vere morreu antes de algumas peças de Shakespeare serem lançadas. Dados oficiais à parte, voltemos a Anonymous. Tem coisa aqui que funciona, como Rhys Ifans (Notting Hill) no papel de Edward de Vere e Vanessa Redgrave (ganhadora do Oscar por Julia) como a rainha Elizabeth, que fazem um trabalho bem bacana. Direção de arte, figurinos e fotografia, também gostei bastante. Tecnicamente, é bem realizado, devido, claro, à longa experiência de Roland com os efeitos audiovisuais. Gosto também dos trechos de peças de Shakespeare encenados ao longo do filme, permitindo ao espectador correlaciona-las com fatos reais da vida de Edward, e servem como provas pra sustentar a própria ideia defendida pelo roteiro. Mas o longa comete deslizes quando não aprofunda o personagem William Shakespeare, tão importante pro desenrolar da história quanto de Vere. O espectador tem uma ideia muito superficial de William ser um homem fanfarrão e aproveitador, e só. O começo do filme é interessante, mas tenta inovar na linha narrativa, fica confuso e deixa o ritmo cair. Volta a engrenar na segunda parte. As intrigas políticas que rolam em segundo plano, dando um ar mais de thriller, falham por se tornarem confusas. Derek Jacob narrando a introdução e o epílogo do filme, na tentativa ser didático, também é um erro. Enfim, é louvável que Roland Emmerich tente diferenciar sua filmografia, espero que acerte mais na próxima vez. Anônimo parte de uma premissa interessante, acerta na técnica, se apoia em bons atores, mas resulta em um filme que não cativa, que é facilmente esquecível.

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