Medianeras/ Buenos Aires na Era do Amor Virtual
direção: Gustavo Taretto
Logo no começo de Medianeras, o espectador é saudado com um longo discurso do protagonista Martin (Javier Drolas). Um discurso simples, mas extremamente poético, que correlaciona a arquitetura e a população de Buenos Aires. Uma ligação que também se encaixa entre os prédios e os habitantes de qualquer metrópole. Essa é uma pista real de que estamos diante de uma comédia romântica fora do comum. Muitos filmes do gênero forçam a barra para serem encantadores, mas poucos atingem esse status de maneira tão singela e encantadora quanto Medianeras. O diretor Gustavo Taretto (em seu primeiro longa-metragem) passa grande parte do tempo utilizando diálogos ora afiados, ora poéticos para traçar as personalidades de Martin e Mariana (Pilar Lopez de Ayala). Eles são dois jovens adultos, que, como o titulo brasileiro diz, estão na era do amor virtual. Ambos são vitimas da tecnologia, de entregas delivery, do sedentarismo, de leves fobias, de relacionamentos frustrados, de coisas que facilitam manterem-se, a maioria do tempo, isolados em seus apartamentos. Assim como eu, você e 99,99% dos jovens adultos de todo o mundo. Claro, trata-se de uma comedia romantica, é previsível que de uma maneira ou de outra, Martin e Mariana vão se cruzar. E ao mesmo tempo que um clima de ansiedade é gerado, o espectador vai se apegando cada vez mais aos personagens. Grande parte do mérito disso vem graças ao roteiro, que utiliza determinados elementos que, com a direção leve de Taretto, criam uma atmosfera irresistivel. Coisas que, em mãos erradas, tornariam o filme pretensioso ou clichê. Por exemplo, após Medianeras é dificil ouvir True Love Will Find You In The End, de Daniel Johnston, ou brincar de Onde Está Wally como antes. Ou até mesmo olhar pros seus vizinhos da mesma maneira. Já comentei antes que admiro filmes que dispensam parafernália para seduzir o espectador com uma bela história apenas contada de maneira eficiente. E é através de uma mecânica simples e de personagens tão realistas e, literalmente, next-door, que Medianeras se revela um retrato perfeito da solidão, as vezes imperceptível, que cerca a juventude no século XXI.Rise of The Planet of The Apes/ Planeta dos Macacos: A Origem
direção: Rupert Wyatt
elenco: James Franco, Freida Pinto, Andy Serkis, John Lithgow
direção: Rupert Wyatt
elenco: James Franco, Freida Pinto, Andy Serkis, John Lithgow
Jane Eyre
direção: Cary Joji Fukunaga
elenco: Mia Wasikowska, Michael Fessbender, Judi Dench, Jamie Bell
IMDb
direção: Cary Joji Fukunaga
elenco: Mia Wasikowska, Michael Fessbender, Judi Dench, Jamie Bell
IMDb
Acho delicado os projetos de refilmar clássicos literários como Jane Eyre, de Charlotte Bronte. Assume-se, de cara, dois compromissos: o primeiro, é necessário dedicação pra manter um nível de qualidade padrão, respeitando a excelência do romance em si. O segundo é trazer algo de novo, afinal, por ser um clássico, a mesma história já foi filmada diversas vezes e a grande maioria até já tem o que pode chamar-se de registro definitivo. Jane Eyre já foi levado às telas 17 vezes e sua personagem-título já foi vivida por atrizes como Joan Fontaine, Susannah York e Charlotte Gainsbourg. Agora é a vez Mia Wasikowska, a Alice de Tim Burton. Sua Jane continua uma jovem questionadora e instigante, embora não feia quanto supõe o livro. É culta e inteligente, mas presa de forma subconscientemente aos maus-tratos que sofreu na infância e aos padrões femininos da época. Gostei desse teor delicado na composição da personagem. Mas gostei ainda mais de Michael Fassbender (Shame e Um Método Perigoso) como Edward Fairfax. Ele traz um diferencial para a versão do diretor Cary Joji Fukunaga: ao mesmo tempo repugnante e soberbo, seu Edward é dono de uma sedução inata e enfeitaçadora, justificando o poder de atração que exerce sobre Jane. Trata-se de algo perceptível apenas através de gestos e olhares. Outro ponto particular da versão 2011 de Jane Eyre: a narrativa segue do meio, usando de flashbacks pra contar toda a história, que por sua vez é representada por uma reconstituição de época e uma fotografia perfeitas. Há um primor e uma elegância detalhista tanto no trabalho de Fukunaga (dirigiu antes Sin Nombre, 2000) quanto no elenco dedicado, formado também por Jamie Bell (Billy Elliot) como St. John Rivers e Judi Dench como Mrs. Fairfax. Aliás, tem tanta atriz que usa a idade como desculpa para a falta de papéis enquanto Judi Dench, taí, aos 77 anos, emendando um longa atrás do outro. Quem tem talento nunca fica parado. Enfim, por favor, se forem recontar uma história que quasetodo mundo já conhece, façam como este Jane Eyre e primam pela qualidade e pelo requinte de produção. Sem contar que funciona como um digno cartão-de-visitas pra quem não conhece o romance ou o autor. O filme concorre ao Oscar apenas na categoria Melhor Figurino, mas merecia maior atenção em outros quesitos técnicos.
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