quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Maratona de Carnaval parte III - Medianeras; Planeta dos Macacos: A Origem; Jane Eyre


Medianeras/ Buenos Aires na Era do Amor Virtual
direção: Gustavo Taretto
elenco: Javier Drolas, Pilar Lopez de Ayala, Inés Efron, Rafael Ferro 
IMDb



Logo no começo de Medianeras, o espectador é saudado com um longo discurso do protagonista Martin (Javier Drolas). Um discurso simples, mas extremamente poético, que correlaciona a arquitetura e a população de Buenos Aires. Uma ligação que também se encaixa entre os prédios e os habitantes de qualquer metrópole. Essa é uma pista real de que estamos diante de uma comédia romântica fora do comum. Muitos filmes do gênero forçam a barra para serem encantadores, mas poucos atingem esse status de maneira tão singela e encantadora quanto Medianeras. O diretor Gustavo Taretto (em seu primeiro longa-metragem) passa grande parte do tempo utilizando diálogos ora afiados, ora poéticos para traçar as personalidades de Martin e Mariana (Pilar Lopez de Ayala). Eles são dois jovens adultos, que, como o titulo brasileiro diz, estão na era do amor virtual. Ambos são vitimas da tecnologia, de entregas delivery, do sedentarismo, de leves fobias, de relacionamentos frustrados, de coisas que facilitam manterem-se, a maioria do tempo, isolados em seus apartamentos. Assim como eu, você e 99,99% dos jovens adultos de todo o mundo. Claro, trata-se de uma comedia romantica, é previsível que de uma maneira ou de outra, Martin e Mariana vão se cruzar. E ao mesmo tempo que um clima de ansiedade é gerado, o espectador vai se apegando cada vez mais aos personagens. Grande parte do mérito disso vem graças ao roteiro, que utiliza determinados elementos que, com a direção leve de Taretto, criam uma atmosfera irresistivel. Coisas que, em mãos erradas, tornariam o filme pretensioso ou clichê. Por exemplo, após Medianeras é dificil ouvir True Love Will Find You In The End, de Daniel Johnston, ou brincar de Onde Está Wally como antes. Ou até mesmo olhar pros seus vizinhos da mesma maneira. Já comentei antes que admiro filmes que dispensam parafernália para seduzir o espectador com uma bela história apenas contada de maneira eficiente. E é através de uma mecânica simples e de personagens tão realistas e, literalmente, next-door, que Medianeras se revela um retrato perfeito da solidão, as vezes imperceptível, que cerca a juventude no século XXI.



Rise of The Planet of The Apes/ Planeta dos Macacos: A Origem
direção: Rupert Wyatt
elenco: James Franco, Freida Pinto, Andy Serkis, John Lithgow


Eu adiei Planeta dos Macacos: A Origem o máximo que pude, por vários motivos. Tem James Franco (acho ele insuportável) e Freida Pinto (uma das atrizes mais inexpressivas que já vi; fez Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, de Woody Allen). Adoro o Planeta dos Macacos original, de 1968, e fiquei traumatizado com o remake de Tim Burton (2001), que considerei uma ofensa. Por fim, esse Planeta novo tava com cheiro de prequel. Tem nada mais desnecessário do que prequel em matéria de cinema. Mas, é temporada de Oscar, ele foi indicado em efeitos especiais e rolou uma certa polêmica em relação ao Andy Serkis não ter sido nomeado, o que despertou meu interesse. Bom, filme assistido, vamos por partes: mantenho minha opinião sobre James e Freida. Não sabia que o John Lithgow (Laços de Ternura) trabalhava aqui. Uma grata supresa, é um dos meus atores favoritos e intepreta um senhor que sofre de Alzheimer, pai do personagem de James Franco. Quanto à situação na cronologia da série Planeta dos Macacos: se inspira na mesma premissa de A Conquista do Planeta dos Macacos (1972), mas não é uma refilmagem, nem um prequel, é uma espécia de reboot na série. Se baseia direto no romance de Pierre Boulle. ...A Origem não chega a estragar de forma catastrófica a memória da série como Tim Burton: Rupert Wyatt mantém aqui as críticas a ciência, troca o militarismo pela industria farmacêutica, dá um bom ritmo à historia e monta uma sequencia final, na Golden Gate Bridge, de tirar o fôlego. Agora, o verdadeiro êxito de ...A Origem: Andy Serkis, simplesmente espetacular como o chimpanzé Caesar. A empresa Weta Digital, do diretor Peter Jackson, foi a responsável pelos efeitos especiais e utilizou a ténica do motion capture pra fazer os chimpanzés. Através disso, eles capturam as feições dos atores pra compor as reações faciais dos animais. E o que são os olhares de Andy Serkis? Impressionante. Andy já tinha experiência no motion capture: ele fez o Gollum de O Senhor dos Anéis. É o tipo de coisa que exige um trabalho minuncioso e delicado do ator. Seria pedir demais ter Andy indicado a Melhor Ator Coadjuvante? A Academia deveria inclui-lo entre as categorias de performances ou inventar uma maneira de premiar o motion capture. Os efeitos especiais, o timing da direção de Rupert Wyatt e, principalmente, Andy Serkis, são os responsáveis por salvar o filme e fazer dele uma boa diversão blockbuster


Jane Eyre
direção: Cary Joji Fukunaga
elenco: Mia Wasikowska, Michael Fessbender, Judi Dench, Jamie Bell
IMDb



Acho delicado os projetos de refilmar clássicos literários como Jane Eyre, de Charlotte Bronte. Assume-se, de cara, dois compromissos: o primeiro, é necessário dedicação pra manter um nível de qualidade padrão, respeitando a excelência do romance em si. O segundo é trazer algo de novo, afinal, por ser um clássico, a mesma história já foi filmada diversas vezes e a grande maioria até já tem o que pode chamar-se de registro definitivo. Jane Eyre já foi levado às telas 17 vezes e sua personagem-título já foi vivida por atrizes como Joan Fontaine, Susannah York e Charlotte Gainsbourg. Agora é a vez Mia Wasikowska, a Alice de Tim Burton. Sua Jane continua uma jovem questionadora e instigante, embora não feia quanto supõe o livro. É culta e inteligente, mas presa de forma subconscientemente aos maus-tratos que sofreu na infância e aos padrões femininos da época. Gostei desse teor delicado na composição da personagem. Mas gostei ainda mais de Michael Fassbender (Shame e Um Método Perigoso) como Edward Fairfax. Ele traz um diferencial para a versão do diretor Cary Joji Fukunaga: ao mesmo tempo repugnante e soberbo, seu Edward é dono de uma sedução inata e enfeitaçadora, justificando o poder de atração que exerce sobre Jane. Trata-se de algo perceptível apenas através de gestos e olhares. Outro ponto particular da versão 2011 de Jane Eyre: a narrativa segue do meio, usando de flashbacks pra contar toda a história, que por sua vez é representada por uma reconstituição de época e uma fotografia perfeitas. Há um primor e uma elegância detalhista tanto no trabalho de Fukunaga (dirigiu antes Sin Nombre, 2000) quanto no elenco dedicado, formado também por Jamie Bell (Billy Elliot) como St. John Rivers e Judi Dench como Mrs. Fairfax. Aliás, tem tanta atriz que usa a idade como desculpa para a falta de papéis enquanto Judi Dench, taí, aos 77 anos, emendando um longa atrás do outro. Quem tem talento nunca fica parado. Enfim, por favor, se forem recontar uma história que quasetodo mundo já conhece, façam como este Jane Eyre e primam pela qualidade e pelo requinte de produção. Sem contar que funciona como um digno cartão-de-visitas pra quem não conhece o romance ou o autor. O filme concorre ao Oscar apenas na categoria Melhor Figurino, mas merecia maior atenção em outros quesitos técnicos.

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