Vamos à primeira parte da Maratona de Carnaval:
J. Edgar
direção: Clint Eastwood
elenco: Leonardo DiCaprio, Armie Hammer, Naomi Watts, Josh Hamilton
cotação: 3/5
IMDb
direção: Clint Eastwood
elenco: Leonardo DiCaprio, Armie Hammer, Naomi Watts, Josh Hamilton
cotação: 3/5
IMDb
Devido a numerosa quantidade de pedras atiradas neste filme, assumo que comecei a assisti-lo cheio de reservas. Concordo que a maquiagem é realmente terrível e acaba atrapalhando os atores. A fotografia, por vezes é escura demais. Sempre achei Leonardo DiCaprio overrated e concordo que aqui ele não faz muita coisa além de franzir a testa ou elevar o tom de voz. Mas, é injusto não reconhcer que J. Edgar consegue ser salvo pela invalível mão de Clint Eastwood, aos 83 anos. Ele conduz de forma leve e hábil a história de John Edgar Hoover, diretor do FBI por cinco décadas. Uma figura complexa, inescrupulosa e chantagista, mas ao mesmo tempo inteligente e corajoso. Desde novo, expert em arquivologia, montou ao longo de sua carreira dossiês que escondiam segredos escandalosos de muita gente, inclusive de presidentes. Cultuava a mãe, tinha tendências crossdesser e mantinha um casamento casto com Clyde Tolson (Armie Hammer), seu número dois no FBI. Desenvolveu a técnica da impressão digital, modificou a figura da polícia para a qual conhecemos hoje. Foi um implacável perseguidor do comunismo, e, mais tarde, das minorias sociais, tentando até sabotar Martin Luther King. Isso tudo mostra o quão John Edgar Hoover é um prato cheio pra um filme bem polêmico. Clint não desperdiça a oportunidade, mas resiste à tentação de cair nos exageiros. Tudo aqui é visitado com delicadeza. O espectador não é obrigado a ficar preso à uma das facetas de Hoover, nem mesmo à sua versão dos fatos, tudo é demonstrado na tela. Além do cuidado, há ritmo. O filme permanece interessante até os últimos segundos. Isso não é só responsabilidade da paradoxal personalidade de John Edgar, mas também do trabalho de direção de Clint Eastwood. Interessante também é a performance de Armie Hammer (A Rede Social) como o dedicado "namorado" de Hoover. Ele tá presente em grande parte dos picos de emoção do filme e segura bem as pontas, mesmo muito prejudicado pela maquiagem de quinta categoria. Enfim, ressalvado os problemas técnicos, J. Edgar desce bem. Atenção para a genial sequencia no cinema, onde o público vaia o discurso patriotista de Hoover e logo em seguida aplaude o trailer de Inimigo Público, estrelado por James Cagney.
Rundskop/ Bullhead
direção: Michael R. Roskam
elenco: Matthias Shoenaerts, Jeroen Perceval, Jeanne Dandoy, Barbara Sarafian
cotação: 4/5
IMDb
Rundskop está concorrendo pela chance de levar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para a Bélgica. A primeira coisa que me passou pela cabeça após assistir a esse filme foi: a Espanha vacilou em desistir de indicar A Pele Que Habito pra tentar uma vaga no Oscar. Acharam que ele fosse polêmico demais pra Academia e optaram pelo último do Agustí Villaronga, que nem ficou entre os cinco indicados. Irônico é descobrir agora que, no quesito shocking, Bullhead não fica atrás do filme de Pedro Almodóvar. O estreante diretor Michael Roskam não dispensa cenas pesadas e situações pertubadoras, num trabalho que lembra bastante o que Nicolas Winding Refn fez ao dirigir Drive. Nas mãos de Roskam está a densa história de Jacky Vanmarsenille (Matthias Schoenaerts), um jovem criador de bois, que luta até hoje com as sequelas físicas e psicológicas de uma tragédia que lhe ocorreu na infância, e que se envolve acidentalmente em uma perigosa negociação entre traficantes de hormônios para animais. Os fatos são apresentados no filme de forma isolada e vão se interligando aos poucos (às vezes por flashback), caminhando para resoluções e coincidencias supreendentes à medida que a narrativa vai se completando. A força do filme se deve também à performance arrebatadora de Matthias Schoenaerts como Jacky: desde a composição minunciosa do personagem até os mínimos detalhes de seu comportamento, que literalmente adquire, por osmose, caracteristicas bovinas (identificação essa que dá titulo ao longa e é explicada ao longo da história). Na trama quase que paralela envolvendo os traficantes, há um quê de Tarantino nos diálogos e uma edição inteligente na hora de explicar por completa a tal operação, sem deixar a sensação de que está subestimando a inteligência do espectador. Embora a maioria dos personagens coadjuvantes termine sem uma conclusão definida, o que realmente importa e chama a atenção é a densidade de Jacky Vanmarsenille, praticamente um anti-herói, ao mesmo tempo hediondo e irresistível. Melhor que o iraniano A Separação, o grande favorito para o Oscar? Não, não é. Mas ainda assim, Bullhead não deixa de ser uma experiência muito interessante.direção: Michael R. Roskam
elenco: Matthias Shoenaerts, Jeroen Perceval, Jeanne Dandoy, Barbara Sarafian
cotação: 4/5
IMDb
La Guerre Est Declaree/ A Guerra Está Declarada
direção: Valerie Donzelli
elenco: Valerie Donzelli, Jeremie Elkhaim, Cesar Desseix, Frederic Pierrot
cotação: 4/5
IMDb
direção: Valerie Donzelli
elenco: Valerie Donzelli, Jeremie Elkhaim, Cesar Desseix, Frederic Pierrot
cotação: 4/5
IMDb
Alguns dos filmes mais comentados em 2011 tiveram o câncer como protagonista de suas histórias: 50%, Inquietos, Triangulo Amoroso, Beginners, entre outros. A doença também faz parte de A Guerra Está Declarada, um projeto do casal Valérie Donzelli e Jérémie Elkaim, baseado num drama pelo qual eles mesmos passaram juntos na vida real. Na ficção, eles ironicamente se chamam Romeo e Juliette e também atravessarão por um destino tão difícil quanto os personagens de Shakespeare: a rotina feliz e tranquila do casal, com um filho pequeno, vai por água abaixo quando descobrem que a criança tem um tumor cerebral. Mas não pense que Valérie optará pelo melodrama pra contar a sua história, pelo contrário. Seguindo uma linha parecida com a de 50%, A Guerra Está Declarada utiliza humor e ironia em grande parte do filme, fazendo com que o espectador facilmente se envolva com o casal principal. Até por que, aliás, é nesse ponto que ele se difere de 50%: o câncer se torna um pano de fundo pra história de amor entre Romeo e Juliette. Acompanhamos todo o romance: desde o primeiro flerte numa boate, as delícias do começo do namoro, as dificuldades típicas com o nascimento da criança e a maneira com que os dois vão lidando com a doença, que, inevitavelmente, coloca a relação em risco. E pra simpatizar ainda mais, A Guerra Está Declarada segue uma curiosa linha alternativa estilística no visual e na montagem. Logo no começo, o barulho descompassado e ensurdecedor de uma máquina de ressonância magnética é mixado com as batidas de uma música eletrônica numa boate. Depois, a montagem paralela de células em multiplicação serve pra alertar ao espectador a respeito do que está por vir. A direção de Valérie remete à nouvelle vague, com traços de François Truffaut e Jean-Luc Godard. Observe o narrador que faz observações óbvias e debochadas à história, o movimento sincronizado entre os atores e a combinação de seus figurinos, ou quando, do nada, num rompante poético do filme, eles começam a cantar uma música em sincronia, mesmo estando distantes. Aliás, a trilha-sonora é um achado que valoriza os momentos mais emocionantes da narrativa: tem Vivaldi, Laurie Anderson, Ennio Morricone e até uma versão de Manhã de Carnaval, do filme Orfeu Negro. Uma pena não ter ficado entre os cinco finalistas do Oscar, já que a França o enviou como seu representante, deixando O Artista de lado (afinal, esse já tem chances de ganhar o prêmio principal). Um projeto corajoso e diferenciado, merece ser conferido.
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