terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Indicados ao Golden Raspberry Awards 2012

Foram revelados os indicados ao Golden Raspberry Awards, ou Framboesa de Ouro, que "premia" os piores filmes do ano. Ironicamente, os indicados quase sempre são campeões de bilheteria. Adoro a idéia do Raspberry, acho divertida e até tem um caráter tradicional, já que acontece desde 1980. Os votantes do Framboesa geralmente alternam entre duas correntes: ou são irônicos e debochados, nomeando até mesmo aqueles que foram indicados ao Oscar; ou chutam cachorro morto, apontando aqueles filmes que todo mundo já fala mal. Este ano, eles optaram pelo segundo raciocínio, infelizmente. Os recordes de indicação ficaram para Amanhecer - Parte I, da série Crepúsculo, e a comédia Cada Um Tem a Gêmea Que Merece, com Adam Sandler vivendo o casal de irmãos Jack e Jill. Aliás, colocaram o Sandler concorrendo em Melhor Ator e Atriz simultaneamente. Sei não, acho muito óbvio falar mal de Crepúsculo e de comédia pastelão.


O framboesa falhou em esquecer de verdadeiros fiascos como: Imortais, do Tarsem Singh, com aquela poluição visual causada pela parafernália de efeitos ruins; A Fera, adaptação de clássico A Bela e a Fera com Vanessa Hudgens (de High School Musical); a asneira indie de A Arte da Conquista; a refilmagem "moderna", no pior sentido do termo, de Footloose; a diretora e atriz Miranda July e seu pretensioso The Future; a falta de conteúdo em Suncker Punch; a vergonha alheia de Cameron Diaz e Justin Timberlake em Professora Sem Classe; a estréia de Madonna na direção com W.E. E o desastre Reféns, com Nicole Kidman e Nicolas Cage, merecia mais indicações. Fiquei também supreso pela ausência de A Filha do Mal e Pânico 4. Omitiram por completo os filmes de terror do ano. 

Acho também que o Raspberry deveria ter debochado de J. Edgar (de Clint Eastwood), Melancolia (de Lars Von Trier) e A Arvore da Vida (de Terrence Malick), filmes de grandes cineastas, mas que foram vítimas do ame-ou-odeie em 2011. Claro que Adam Sandler contracenando com ele mesmo é tortura em forma de longa-metragem, mas, espero que haja mais audácia do Framboesa no futuro. Aliás, se tem um prêmio que Cada Um Tem a Gêmea Que Merece é o de "Momento WTF do Ano", graças a Al fucking Pacino fazendo dobradinha com Sandler.



Eis os indicados nas principais categorias:

Pior Filme:

Bucky Larson: O Rei do Pornô
Cada Um Tem a Gêmea Que Merece
Noite de Ano Novo
Transformers 3
Amanhecer - Parte 1 (Crepúsculo)

Pior Diretor:

Michael Bay - Transformers 3
Tom Brady - Bucky Larson: O Rei do Pornô
Bill Condon - Amanhecer - Parte 1 (Crepúsculo)
Dennis Dugan - Cada Um Tem a Gêmea Que Merece e Esposa de Mentirinha
Garry Marshall - Noite de Ano Novo

Pior Roteiro:

Bucky Larson: O Rei do Pornô (roteiro de Adam Sandler)
Cada Um Tem a Gêmea Que Merece
Transformers 3
Amanhecer - Parte 1 (Crepúsculo)
Noite de Ano Novo

Pior Ator:
Russell Brand - Arthur
Nicolas Cage - Fúria Sobre Rodas, Caça as Bruxas e Reféns
Taylor Lautner - Sem Saída e Amanhecer - Parte 1 (Crepúsculo)
Adam Sandler - Cada Um Tem a Gêmea Que Merece e Esposa de Mentirinha
Nick Swardson - Bucky Larson: O Rei do Pornô

Pior Atriz:
Martin Lawrence (como Vovozóna) - Vovo...zona 3
Sarah Palin - The Undefeated
Sarah Jessica Parker - Não Sei Como Ela Consegue e Noite de Ano Novo
Adam Sandler (como Jill) - Cada Um Tem a Gêmea Que Merece
Kristen Stewart - Amanhecer - Parte 1 (Crepúsculo)

Pior Ator Coadjuvante:
Patrick Dempsey - Transformers 3
James Franco - Sua Alteza
Ken Jeong - Vovó...Zona 3, Like Son, Se Beber, Não Case 2, Transformers 3 e O Zelador Animal
Al Pacino - Cada um Tem a Gemea Que Merece
Nick Swardson - Cada um Tem a Gemea Que Merece e Esposa de Mentirinha

Pior Atriz Coadjuvante:

Katie Holmes - Cada um Tem a Gemea Que Merece
The underwear model (Rosie Huntington-Whiteley) - Transformers 3
Brandon T. Jackson - Vovó...Zona 3 e Like Son
Nicole Kidman - Esposa de Mentirinha
David Spade (como Monica) - Cada um Tem a Gemea Que Merece

Pior Dupla: 

Nicolas Cage & qualquer um que tenha contracenado com ele em 2011 - Fúria Sobre Rodas, Caça as Bruxas e Refens
Shia LaBeouf & The underwear model (Rosie Huntington-Whiteley) - Transformers 3 

Adam Sandler & Jennifer Aniston ou Brooklyn Decker - Esposa de Mentirinha
Adam Sandler & Katie Holmes, Al Pacino ou Adam Sandler - Cada um Tem a Gemea Que Merece
Kristen Stewart & Taylor Lautner ou Robert Pattinson - Amanhecer - Parte 1 (Crepúsculo)

Pior Sequencia, Remake e derivados:

Arthur
Bucky Larson: O Rei do Pornô (considerado plágio de Boogie Nights e Nasce
Uma Estrela)

Se Beber, Não Case 2
Cada Um Tem a Gemea Que Merece (considerado plágio ou remake de Glen ou Glenda, de Ed Wood)
Amanhecer - Parte 1 (Crepúsculo)

Pior Elenco 

Bucky Larson: O Rei do Pornô
Cada Um Tem a Gemea Que Merece
Noite de Ano Novo
Tranformers 3
Amanhecer - Parte 1 (Crepúsculo)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Considerações sobre o Oscar

Uma noite previsível e em clima de nostalgia. Assim pode se resumir a cerimônia do Oscar deste ano. Com a apresentação de um Billy Crystal já meio sem graça (é a nona vez que ele desempenha esse papel), a premiação seguiu linear, sem altos e baixos. A polêmica ficou por conta de Sacha Baron Cohen (de Borat e Brüno), que, divulgando o seu novo personagem, jogou cinzas em cima do repórter-metido-a-estrela Ryan Secrest, ainda no tapete vermelho. Resultado: Sacha foi expulso da premiação.

Sacha Baron Cohen e Ryan Seacrest

Não entendo por que investir em Billy Crystal mais uma vez. A idéia inicial era ter Eddie Murphy. Ano passado, tiveram fracasso escolhendo Anne Hathaway e James Franco. Que tal investir em comediantes mais novos como Steve Carrell, Will Ferrell, Jack Black, Tina Fey ou Kristen Wiig? Ok, se queriam optar pelos mais experientes por que não Steve Martin ou Whoopi Goldberg? O insosso Crystal tentou fazer piada com diversas menções à atual crise econômica. A mais notável delas foi chamar de "teatro da bancarrota" o Kodak Theatre, local onde se realiza a cerimônia do Oscar desde 2002. A empresa Eastman Kodak declarou falência e, consequentemente, rompeu o contrato com de patrocínio com o tradicional teatro de Hollywood.


Billy Crystal e o palco do Kodak Theatre

Já a vibe nostálgica ficou a cargo da apresentação do Cirque du Soleil e de depoimentos dados por diversos astros americanos sobre o primeiro contato deles com o cinema ou a importância que este exerce em suas vidas. Foram dois pontos altos da noite. É curioso como essas reverências ao cinema dialogam justamente com os dois filmes com o maior número de indicações da noite: O Artista (com 10) e A Invenção de Hugo Cabret (com 11). Embora de maneiras diferentes, ambos prestam homenagens aos primórdios da sétima arte.

Neste ano, cortaram tanto os vídeos que apresentam os indicados ao prêmio de Melhor Filme quanto as performances dos indicados a Melhor Canção Original. Eu particularmente gosto dos dois, mas, se é pra encurtar a cerimônia, tá valendo. Sempre demasiadamente longa, desta vez durou três horas. Excluíram também os discursos dos premiados pelo Oscar honorário em reconhecimento a trabalhos comunitários (Oprah Winfrey foi uma das vencedoras). Pelo menos, tivemos o tradicional vídeo de homenagem aos profissionais que morreram ano passado. É o tipo de coisa melodramática e clichê, mas que sempre me emociona. Tentando inovar, em vez de só o videoclipe, colocaram Esperanza Spalding cantando ao vivo What a Wonderful World, enquanto as fotos dos falecidos passavam ao fundo. Adoro Esperanza, mas alguém me explica a relação entre What a Wonderful World e a morte?

J-Lo pós-carnaval no Rio e Cameron Diaz

Das apresentações dos prêmios, as dobradinhas entre Jennifer Lopez e Cameron Diaz, Robert Downey Jr e Gwyneth Paltrow, Ben Stiller e Emma Stone, e as meninas de Bridemaids (que repetiram o hilário drinkgame envolvendo Scorsese) realmente divertiram. Colin Firth e Natalie Portman, vencedores como Ator e Atriz ano passado, utilizaram mini-discursos para apresentar os indicados deste ano. Foram emocionantes, principalmente os do (sempre gentleman) Colin. Angelina Jolie entregou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado extremamente magra, mas exercendo sua persona femme fatale. O resto das apresentações soou meio burocrático, como de costume.


Angelina Jolie no red carpet

Coincidentemente (será que existem mesmo coincidências em Hollywood?), os dois favoritos da noite, O Artista e A Invenção de Hugo Cabret, levaram a mesma quantidade de estatuetas: cinco. Enquanto o longa francês levou três das categorias mais cobiçadas (Filme, Diretor e Ator), o filme de Martin Scorsese ganhou apenas em categorias técnicas: Efeitos Visuais, Mixagem de Som, Edição de Som, Fotografia e Direção de Arte. A Invenção de Hugo Cabret é um primor técnico, muito bem produzido e visualmente é de encher olhos. Até já havia uma corrente que previa o sucesso dele nas categorias técnicas como um prêmio de consolação, já que seria inevitável laurear O Artista, atual queridinho de Hollywood, nas categorias principais.

Octavia Spencer
 
Se tem alguém responsável pelo caráter previsível da festa do Oscar, esse alguém é justamente a indústria cinematográfica. São inúmeras as premiações realizadas nos meses que precedem à votação da Academia: tem o tradicional Globo de Ouro; os Sindicatos de Atores, Diretores, Produtores, Roteiristas, entre outros, também elegem seus próprios favoritos; o Independent Spirit Awards, homenageia os filmes independentes; etc. Seus votantes são praticamente os mesmos da academia. Por isso era barbada apostar em Octavia Spencer e Christopher Plummer, que venceram o Oscar na categoria Coadjuvante. Ambos foram praticamente unanimes nas outras premiações. Esse foi o caminho trilhado também por Meia-Noite em Paris e Os Descendentes, como Roteiro Original e Adaptado, respectivamente. Sempre avesso à premiações, o roteirista e diretor de Meia-Noite em Paris, Woody Allen, não apareceu por lá pra receber o prêmio. O iraniano A Separação, levando por Melhor Filme Estrangeiro, da mesma forma não fugiu a regra da previsibilidade.


Christopher Plummer

Dizem que brasileiro não desiste nunca e isso justifica a crença em levar o prêmio de Melhor Canção Original com a animação Rio. Concorreu com apenas outro filme, mas esse era justamente Os Muppets, que tem um valor sentimental grande pros americanos. E a música Man or Muppet é de Bret McKenzie, cara que faz parte da série cômica Flight of The Conchords (HBO), bastante querido tanto por lá quanto no Reino Unido. Tem também um forte apelo indie. Particularmente, acho a canção de Bret bem melhor do que a de Carlinhos Brown. 

Também não fiquei surpreso com a justa vitória de Meryl Streep como Melhor Atriz, graças à impressionante personificação de Margaret Tatcher. Embora Viola Davis tenha sido eleita pelo Sindicato dos Atores, Meryl já estava na sua 17ª indicação e há 29 anos não levava uma estatueta pra casa. Meryl Streep também já tinha ganhado há dois anos pelo Sindicato, e isso talvez justifique a preferência deles por Viola neste ano. Ou também eles já tinham votado na atriz de Histórias Cruzadas como um prêmio de consolação, para focar em Meryl no Oscar sem peso na consciência. Mas Viola Davis é uma ótima atriz e tem um grande caminho pela frente. Não vai demorar muito pra faturar uma estatueta também. De qualquer forma, Meryl Streep estava belíssima, toda de dourado e fez um discurso emocionante: "Quero agradecer muito a vocês, já que acredito que eu nunca mais vou estar aqui". Uma verdadeira diva. Meryl, por mim, você poderia ter ganhado todas as 17 vezes.


Meryl Streep e Jean Dujardin

Mas o lado positivo de ver a Academia seguindo as previsões foi o fato de premiar O Artista, não só em Trilha-Sonora e Figurino, mas em Melhor Ator, Diretor e Filme. É um provável fim da fama xenófoba que perseguiu o Oscar ao longo de todos esses anos. Jean Dujardin esteve de fato brilhante como o ator George Valentin, seu desempenho bisa a excelência de mestres como Buster Keaton e Harold Lloyd. Mas não sinto que ele tenha futuro além da comédia, parece ator de um papel só. Veremos em seus próximos filmes. Mas santo de casa não faz milagre e ele perdeu o César, considerado o Oscar francês.

Já Michel Hazanavicius é bom diretor? Sim. Um grande diretor, a ponto de ser o primeiro estrangeiro a quebrar a barreira e ganhar um Oscar por um filme de língua não-inglesa? Não necessariamente. Verdadeiros mestres do cinema francês como François Truffaut, Jean-Luc Godard, François Ozon, Claude Chabrol, Jacques Tati, entre outros, não conseguiram tal feito. Por que Hazanavicius sim? Claro que a monstruosa divulgação da distribuidora, a Weinstein Brothers, responsável também por Guerra ao Terror e O Discurso do Rei (vencedores do Oscar nos anos anteriores) ajudou bastante. Na última semana de votação dos membros da academia, Jean Dujardin estava presente em praticamente todos os talk-shows americanos e até mesmo no Saturday Night Live. Mas O Artista é o tipo de projeto que apareceu no lugar certo e na hora certa. Justamente quando a indústria, assustada pela crise, apela para o nível mais evoluído possível de efeitos tecnológicos, a fim de angariar espectadores, chega um filme que dispensa tudo isso. E ainda por cima, lembra que é possível entreter e emocionar dispensando até mesmo a cor e o som. O apelo nostálgico de O Artista revelou-se um frescor no circuito cinematográfico. A percepção de achar a hora certa pra fazer tal projeto e a coragem de encabeça-lo são méritos de Michel Hazanavicius. Sim, coragem, porque obviamente foi um filme dificílimo de encontrar financiamento. Tanto que o casal principal Berenice Bejo e Jean Dujardin são, na verdade, sua esposa e seu amigo na real life e o orçamento foi de apenas 15 milhões de dólares. Hoje está rendendo na casa dos 60 milhões. Foi uma realização verdadeiramente pessoal, demorou 12 anos pra sair do papel. Julgo que a dedicação e a persistência em fazer algo, que a vista de muita gente seria um verdadeiro fracasso, tenha sido o grande diferencial de Michel Hazanavicius e seu O Artista.


a equipe de O Artista recebendo o prêmio principal da noite

Falam muito de uma tal crise criativa que assola a indústria cinematográfica norte-americana. Discordo. Em 2011 tivemos ótimos filmes, sendo que vários deles nem foram lembrados pela Academia (Drive é o caso mais gritante). E grande parte dos indicados são bem melhores que O Discurso do Rei. Concordo que há temos não temos um arrasa-quarteirão do porte de Titanic (1998), mas, criativamente falando, acho que o cinema norte-americano não vai tão mal assim. Agora, preparem-se para a enxurrada de filmes que reverenciam o cinema no estilo saudade-daquilo-que-não-vivi. Odeio me alongar demais em posts, mas é Oscar e isso só tem uma vez por ano. Agora sim começa 2012 de verdade (pelo menos em termos cinematográficos).

 quem precisa de Woody Allen quando se tem o Uggie?

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Apostas para o Oscar 2012

Digam o que quiserem: o Oscar pode ser conservador e saudosista, mas ainda manda e desmanda na indústria cinematográfica. Bom lembrar que o júri da Academia é formado por 6 mil pessoas, a maioria deles homens brancos, com mais de 50 anos, atores semi-aposentados que jamais foram indicados para os prêmios que concorrem. Isso porque o Oscar foi criado para “destacar e honrar qualidade e excelência na arte cinematográfica”. Em 83 anos do prêmio, apenas 4% das estatuetas de atores/atrizes foram para não-brancos e Kathryn Bigelow é única mulher a receber um Oscar por direção. Talvez isso seja conseqüência do perfil da maioria dos votantes da Academia? who knows... O roteirista Frank Pierson, oscarizado por Um Dia de Cão, se justifica dizendo: “Não vejo por que devemos representar todas as facetas da população. Para isso existem os prêmios People’s Choice.”

Após desistir de Brett Ratner (diretor de Roubo nas Alturas) e Eddie Murphy para, respectivamente, produzir e apresentar o Oscar, a Academia optou por Brian Grazer (premiado por Uma Mente Brilhante) e o tradicional Billy Crystal como mestre de cerimônias, exercendo este papel pela nona vez. Além disso, os números musicais foram cortados. Uma provável tentativa de agilizar a cerimônia, sempre demasiadamente longa. O Oscar será transmitido aqui via TNT, às 21h30m (com pré-show começando as 20h30m) e Rede Globo, a partir das 23h55m.


Vamos às apostas para as principais categorias desta noite:


*** MELHOR FILME ***

indicados: O Artista; Os Descendentes; Tão Forte e Tão Perto; Histórias Cruzadas; A Invenção de Hugo Cabret; Meia-Noite em Paris; O Homem Que Mudou o Jogo; A Arvore da Vida; Cavalo de Guerra.


 

quem ganha: O Artista. O filme francês mudo e em preto-e-branco foi o grande vencedor em diversas premiações que servem como uma prévia do Oscar: Globo de Ouro, Sindicato dos Diretores, Sindicato dos Produtores e Sindicato dos Atores. Até o maior número de aplausos durante o tradicional almoço entre os indicados no Beverly Hilton, o filme levou. Sem contar que a Academia é saudosista por natureza e O Artista homenageia justamente a era de ouro de Hollywood. É uma ótima oportunidade dos votantes se vangloriarem do passado. Tudo indica que esta será a primeira vez que a Academia deixará a xenofobia de lado e premiará um longa de lingua estrangeira na principal categoria. 

alternativa: Histórias Cruzadas. É o tipo de filme feito sob medida pra ganhar o Oscar, com aquele apelo típico melodramático de "uma lição de vida". Foi um sucesso estrondoso nos EUA e indicado nas principais categorias. A Invenção de Hugo Cabret teria mais chances do que ele se este não tivesse sido omitido nas categorias de atuação.

meu favorito: O Artista. É uma fascinante homenagem ao cinema. Encanta, comove e conquista o espectador naturalmente. Raríssimo obter tudo isso hoje em dia.

os esquecidos: Drive, de Nicholas Winding Refn, com Ryan Gosling; Tudo Pelo Poder, de George Clooney, com Ryan Gosling e Clooney; A Separação, de Ashgar Fahradi, longa iraniano indicado a estatueta de Filme Estrangeiro; Toda Forma de Amor, de Mike Mills, com Ewan McGregor; O Espião Que Sabia Demais, de Tomas Alfredson, com Gary Oldman.




*** MELHOR DIRETOR ***

indicados: Michel Hazanavicius (O Artista); Alexander Payne (Os Descendentes); Martin Scorsese (A Invenção de Hugo Cabret); Woody Allen (Meia-Noite em Paris); Terrence Malick (A Arvore da Vida).

 
quem ganha: Michel Hazanavicius. Faturou o prêmio principal do Sindicato dos Diretores.

alternativa: Martin Scorsese. Foi bem em outras premiações que antecedem o Oscar e é a melhor opção caso a Academia opte a manter o seu patriotismo.

meu favorito: Martin Scorsese. Trabalho brilhante em A Invenção de Hugo Cabret. Sua primeira incursão pelo universo infantil, usa o 3D com uma competência nunca vista antes e ainda presta uma emocionante homenagem a George Melies e os primórdios do cinema.

os esquecidos: Nicolas Winding Refn, por Drive; David Fincher, por Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres; Tomas Alfredson, por O Espião Que Sabia Demais; Clint Eastwood, por J. Edgar; George Clooney, por Tudo Pelo Poder; Ashgar Farhadi, por A Separação; Stephen Daldry, por Tão Forte e Tão Perto; Lynne Ramsay, por Precisamos Falar Sobre o Kevin.




*** MELHOR ATRIZ ***

indicados: Meryl Streep (A Dama de Ferro); Glenn Close (Albert Nobbs); Viola Davis (Histórias Cruzadas); Rooney Mara (Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres); Michelle Williams (Sete Dias com Marilyn).


quem ganha: Meryl Streep. Já foi indicada 16 vezes, ganhou duas, uma em 1979 e outra em 1983. Tá na hora de ganhar de novo. Meryl tem uma campanha fortíssima a seu favor nos Estados Unidos.

alternativa: Viola Davis. Ganhou no Sindicato dos Atores, é talentosa, mas é uma atriz em relativo começo de carreira, ainda tem muito pela frente. Importante lembrar que Meryl Streep ganhou ano retrasado no Sindicato, o que pode justificar ela não ter sido premiada agora.

minha favorita: Meryl Streep. Um trabalho impressionante e minuncioso ao interpretar Margaret Tatcher. Meryl sempre acerta, mas agora, ela conseguiu se superar.

as esquecidas: Tilda Swinton, por Precisamos Falar Sobre o Kevin, a melhor atuação de 2011; Carey Mulligan, por Drive; Charlize Theron, por Jovens Adultos; Elizabeth Olsen por Martha Marcy May Marlene; Jessica Chastain por A Árvore da Vida; Mia Wasikowska por Jane Eyre.




*** MELHOR ATOR *** 

indicados: Jean Dujardin (O Artista); George Clooney (Os Descendentes); Brad Pitt (O Homem Que Mudou o Jogo); Demian Bichir (Uma Vida Melhor); Gary Oldman (O Espião Que Sabia Demais).


quem ganha: Jean Dujardin. Faturou em todas as premiações anteriores, tem sido bastante aclamado nos EUA. Tenho pra mim que ele é meio que ator de um papel só. Pelo menos, tratando-se de comédia, Dujardin se garante.

alternativa: George Clooney. Uma das figuras mais queridas no meio cinematográfico norte-americano. Tido como grande favorito no lançamento de Os Descendentes, foi ofuscado por Jean ao longo das premiações. Caso a Academia insista em ser xenófoba, é a alternativa mais possível.

meu favorito: George Clooney. É um ótimo ator e teve em Os Descendentes o seu melhor desempenho até hoje.

os esquecidos: Ryan Gosling, por Drive, Amor a Toda Prova e Tudo Pelo Poder, o melhor ator de 2011; Michael Fassbender, por Shame; Michael Shannon, por O Abrigo; Brendan Gleeson, por O Guarda; Ben Kingsley, por A Invenção de Hugo Cabret.




*** MELHOR ATRIZ COADJUVANTE ***

indicadas: Octavia Spencer (Histórias Cruzadas); Jessica Chastain (Histórias Cruzadas); Berenice Bejo (O Artista); Melissa McCarthy (Missão Madrinha de Casamento); Janet McTeer (Albert Nobbs).


quem ganha: Octavia Spencer. Foi a favorita no Globo de Ouro e no Sindicato dos Atores. Seu personagem é meio estereotipado, mas é do tipo que a Academia gosta de premiar. Uma das poucas certezas de hoje à noite.

alternativa: Melissa McCarthy. Atriz de séries de tv, se tornou muito querida e foi alçada ao estrelato com Missão Madrinha de Casamento.

minha favorita: Jessica Chastain. A grande revelação de 2011, uma atriz talentosíssima. É quem realmente rouba a cena no elenco estelar de Histórias Cruzadas.

as esquecidas: Shailene Woodley, por Os Descendentes; Carey Mulligan, por Shame; Viola Davis, por Tão Forte e Tão Perto; Anjelica Huston, por 50%; Vanessa Redgrave por Coriolanus.




*** MELHOR ATOR COADJUVANTE ***


indicados: Christopher Plummer (Toda Forma de Amor); Nick Nolte (Guerreiro); Max von Sydow (Tão Forte e Tão Perto); Jonah Hill (O Homem Que Mudou o Jogo); Kenneth Branagh (Sete Dias com Marilyn).



quem ganha: Christopher Plummer. Assim como Octavia Spencer, é mais uma barbada pra hoje. Favorito absoluto nas premiações, é o típico caso de um grande ator, com uma longa carreira, que finalmente chegou na hora certa de ser reconhecimento. Fez o capitão von Trapp em A Noviça Rebelde.

alternativa: Nick Nolte. Tem uma performance arrebatadora em Guerreiro; foi um astro nas décadas de 1980/1990, mas estava com a carreira em baixa por problemas com o álcool. Mais um típico caso de reerguer um ator, como fizeram com Mickey Rourke.

meu favorito: Christopher Plummer. Merece o reconhecimento, mesmo que tardio, além de estar perfeito em Toda Forma de Amor. Mas Nick Nolte, Max von Sydow e Kenneth Branagh também seriam opções bem justas.

os esquecidos: Albert Brooks, por Drive; Armie Hammer, por J. Edgar; Christoph Waltz, por Carnage; John Hawks, por Martha Marcy May Marlene; Patton Oswalt, por Jovens Adultos; Viggo Mortensen, por Um Método Perigoso; Phillip Seymour Hoffman por Tudo Pelo Poder.




*** MELHOR FILME ESTRANGEIRO ***


indicados: A Separação, de Asghar Fahradi (Irã); Bullhead, de Michael R. Roskam (Bélgica); Monsieur Lazhar, de Phillipe Falardeau (Canadá); In Darkness, de Agnieszka Holland (Polônia); Footnote, de Joseph Cedar (Israel).


quem ganha: A Separação. Tem sido premiado praticamente de forma unanime pelo mundo inteiro.

alternativa: In Darkness. Opção mais próvavel caso a Academia decida virar as costas pro filme estrangeiro preferido da vez, assim como fez com Incêndios, de Dennis Villeneuve, ano passado.

meu favorito: A Separação. É um filme honesto, surpreendente e capta a atenção do espectador até o último segundo. Merecia concorrer a estatueta principal.

os esquecidos: Tropa de Elite 2 (Brasil); A Guerra Está Declarada (França). Lembrando que o ótimo A Pele Que Habito, do Almodóvar, foi recusado pela própria Espanha na hora de enviar o seu indicado à Academia.




*** MELHOR ROTEIRO ORIGINAL ***

indicados: O Artista; Missão Madrinha de Casamento; Margin Call: O Dia Antes do Fim; Meia-Noite em Paris; A Separação.



quem ganha: Meia-Noite em Paris.

alternativa: O Artista.

meu favorito: A Separação.




*** MELHOR ROTEIRO ADAPTADO ***

indicados: Os Descendentes; A Invenção de Hugo Cabret; Tudo Pelo Poder; O Homem Que Mudou o Jogo; O Espião Que Sabia Demais.

 
quem ganha: Os Descendentes.

alternativa: Tudo Pelo Poder.

meu favorito: Tudo Pelo Poder.




*** MELHOR EFEITOS ESPECIAIS ***

indicados: A Invenção de Hugo Cabret; Gigantes de Aço; Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2; Planeta dos Macacos: A Origem; Transformers: O Lado Oculto da Lua. 

 
quem ganha: A Invenção de Hugo Cabret

alternativa: Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2

meu favorito: Planeta dos Macacos: A Origem





*** MELHOR TRILHA SONORA ***


indicados: O Artista (Ludovic Bource); As Aventuras de Tintim (John Williams); Cavalo de Guerra (John Williams); A Invenção de Hugo Cabret (Howard Shore); O Espião Que Sabia Demais (Alberto Iglesias).



quem ganha: O Artista.

alternativa: Cavalo de Guerra.

meu favorito: O Artista.

os esquecidos: Alexandre Desplat (A Arvore da Vida; Sete Dias com Marilyn; Harry Potter e As Reliquias da Morte; Tudo Pelo Poder); Cliff Martinez (Drive; Contágio)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Maratona de Carnaval parte IV - Sete Dias com Marilyn; Albert Nobbs; Potiche - Esposa Troféu


 My Week With Marilyn/ Sete Dias com Marilyn
direção: Simon Curtis
elenco: Michelle Williams, Kenneth Branagh, Eddie Redmayne, Judi Dench


Baseado no livro auto-biográfico de Colin Clark, Sete Dias com Marilyn nada mais é do que uma análise pessoal sobre o que havia por trás da imagem sedutora e irresistível do ícone Marilyn Monroe. Colin, aqui interpretado por Eddie Radmayne, é contratado como assistente de direção de Laurence Oliver (Kenneth Branagh), no filme The Prince and The Showgirl, onde o próprio Laurence atuará com Marilyn Monroe (Michelle Williams). Durante a produção, Colin e Marilyn se envolvem. Logo no início, percebem-se diferenças gritantes entre o livro e o filme. No livro, os pais de Colin são artistas e amigos íntimos de Laurence Olivier, o que justifica a sua fácil incursão no meio cinematográfico. No filme, ele é um cara apaixonado por cinema, que, por insistência (e de uma forma não muito bem explicada), consegue um emprego na produtora de Laurence. Na transposição para a tela, a ordem de certas sequencias foram alteradas e outras tiveram o seu impacto bem diluído. Para encarnar Marilyn, optaram por Michelle Williams (Blue Valentine), uma atriz bem competente, mas que não chega a incorporar o papel de fato. Sua atuação pode ser encarada como uma interpretação própria, uma análise pessoal do mito. Fisicamente, Michelle apenas lembra Marilyn. Mas, pelo menos ela foge da caricatura e é possível encontrar resquícios do poder de magnetismo e da inocência simulada de Marilyn Monroe, que a tornaram tão famosa, alternados com o desequilíbrio emocional e a frágil auto-estima, lados que a película de seus sucessos não capturou. Michelle também soube encontrar o tom certo de voz, mas, de forma geral, o seu desempenho não é mais do que correto. Só a indicação ao Oscar já é um reconhecimento justo. Quem chega a espantar é Kenneth Branagh. É uma pena que ele esteja concorrendo com as performances monstruosas de Christopher Plummer (Beginners) e Nick Nolte (Warrior) pela estatueta de Melhor Ator Coadjuvante. Seu desempenho como Sir Laurence Olivier é soberbo, e, se a preferência por Plummer ou Nolte já não estivesse tão determinada, teria grandes chances de sair vitorioso amanhã. No fim, Sete Dias com Marilyn resulta simplório, com jeitão de telefilme bem-acabado. Pouco acrescenta e não chega a desvendar a mulher por trás da lenda Marilyn Monroe.



Albert Nobbs
direção: Rodrigo Garcia
elenco: Glenn Close, Janet McTeer, Mia Wasikowska, Aaron Johnson
IMDb


Albert Nobbs é projeto pessoal de uma de minhas atrizes favoritas, Glenn Close, que além de protagonizar, colaborou na adaptação do roteiro e compôs a música tema. Com este filme, Glenn conseguiu a sua sexta indicação ao Oscar (já foi nomeada inclusive por Atração Fatal e Ligações Perigosas, dois de seus maiores êxitos comerciais, mas nunca ganhou). O personagem-título de Albert Nobbs é um dos mais complexos de sua carreira: ele, na verdade, é uma mulher órfã que, na Irlanda do século XIX, resolve se travestir para conseguir trabalhar como garçom e manter uma vida digna e independente. Glenn Close conduz o personagem com a maior sutileza possível, sendo perceptível todo momento o cuidado em evitar que ele caia no melodrama. O problema é que essa mesma cautela impede que se atinja a emoção que certas passagens do roteiro exigem. E nessas horas, tudo fica frio demais. Agora, mais comentada do que a performance de Gleen Close, é a de Janet McTeer, que interpreta o pintor Hubert, personagem que esconde o mesmo segredo que Albert. Janet é uma ótima atriz, teve também foi lembrada pela Academia por este trabalho (já foi indicada antes por Livre para Amar), mas não vejo motivo pra tanta aclamação. Acho seu desempenho aqui bacana, a composição do personagem razoável e só. Dos demais protagonistas, Brendan Gleeson se sobressai; já Mia Wasikowska e Aaron Johnson estão apenas medianos. De qualquer forma, Albert Nobbs não deixa de ser uma história interessante, tanto pelo retrato da antiga sociedade opressora irlandesa quanto pela interessante complexidade psicológica de seu protagonista.



Potiche/ Esposa Troféu
direção: François Ozon
elenco: Catherine Deneuve, Gerárd Depardieu, Fabrice Luchini, Karin Viard


Este é o trabalho mais recente do multi-facetado diretor francês François Ozon. Ele já exercitou o humor negro em 8 Mulheres; o thriller em Swimming Pool; a fantasia em Ricky; o romance em Angel, etc. Em Potiche, ele trabalha com a comédia, mas sem abandonar o tradicional ponto de vista satírico, a análise sobre a sexualidade humana e o toque gay, pontos que marcam presença em todas suas obras – por mais que sejam de gêneros tão díspares. Aqui temos também o reencontro dos astros franceses Catherine Deneuve e Gerárd Depardieu. Os dois estiveram juntos pela primeira vez em O Ultimo Metro, de François Truffaut, e desde então, fizeram mais oito parcerias. Ozon utiliza de um visual bem colorido para remontar o final da década de 1970, época em que se ambienta a história de Suzanne Pajol, a esposa troféu do título, que se vê obrigada a tomar conta da fábrica que o marido dirige, após este ter uma crise. Com isso, ela acaba reavaliando sua antiga posição de dona-de-casa exemplar, ao mesmo tempo em que revive uma antiga paixão com Maurice Babin (Depardieu), líder sindicalista que encabeça uma revolta que está ocorrendo justamente em sua fábrica. Potiche é uma comédia gostosa de ver, tem momentos divertidíssimos (como a sequencia de Gerard e Deneuve dançando numa discoteca), flerta com êxito com o musical, mas é uma história simples, não raro apela pro clichê e faz uma análise da estrutura familiar de forma bem superficial. Funciona como um bom passatempo, mas nada além disso. Atenção para a participação especial do ator espanhol Sergi López (Coisas Belas e Sujas; Uma Relação Pornográfica) como um caminhoneiro que tem um rápido envolvimento com a personagem de Deneuve.