Titanic 3-D
direção: James Cameron
elenco: Kate Winslet, Leonardo DiCaprio, Kathy Bates, Billy Zane
Assumo que, mais do que gostar do filme em si, valorizo o apelo nostálgico que Titanic tem pra mim. Lá pelos idos de 1997, eu tinha 9 anos e minha relação com o cinema limitava-se a exaustivas locações de VHS que alternavam entre a comédia (do tipo que hoje é chamado de clássico sessão-da-tarde) e o terror slasher. Isso até o dia em que, levado pela minha mãe, fui ao cinema assistir ao que todo mundo aclamava como "a maior febre já gerada por um filme antes": sim, tratava-se de Titanic. Não era a primeira vez que eu ia a uma sala de cinema, mas tenho certeza de que nunca minha atenção tinha sido capturada com tanta força por um longa-metragem antes. Seus 194 minutos passaram em um piscar de olhos e, nesse meio tempo, naveguei por uma série de emoções diferentes. Claro, cinema de entretenimento é pra isso. Eu não tinha embasamento ou um olhar mais crítico e técnico naquela época, tudo era uma questão meramente sensorial e eu simplesmente me permiti embarcar nessa viagem. A partir disso, meu relacionamento com o cinema nunca mais foi o mesmo.
Embora eu tivesse me entretido bastante com Titanic, James Cameron conseguiu alertar-me de que cinema não é apenas a maior diversão. Havia algo por trás disso e que gerava todo o envolvimento que me manteve tão absorto em mais de três horas sentado, de frente para um telão. Fiquei ávido em repetir a experiência, o que me levou a criar o hábito de verificar as estréias no circuito de salas, a checar as fichas técnicas dos filmes, a ter um ator ou diretor favorito e a torcer por um filme no Oscar (assim como foi com Titanic na categoria principal e pelo casal de Melhor é Impossível, Helen Hunt e Jack Nicholson, ganhadores na mesma cerimônia). Enquanto as pessoas entravam na febre Titanic e iam ao cinema assisti-lo inúmeras vezes (o que fez com o que filme ficasse mais de um ano em cartaz no Rio de Janeiro), eu mergulhei de cabeça na arte cinematográfica em si e, consequentemente, me descobri infectado pela tal de cinefilia.
Só assisti ao filme de James Cameron uma vez no cinema e outra no videocassete (quem não lembra do pacote de VHS dupla?). Talvez por isso, nunca me senti verdadeiramente enjoado dele, como tanta gente ficou. Pois é, cultura pop tem disso, as pessoas esgotam tal produto ao máximo e depois cansam dele e terminam reduzindo o seu valor. O tempo passa e muitos deles voltam a ser consagrados por uma nova geração. Quinze anos depois, Titanic retorna aos cinemas. Adaptado para a terceira dimensão justamente por aquele que, com Avatar, resgatou e aprimorou essa técnica que foi muito utilizada nos anos 1980: o mesmo James Cameron. Será que esta é a hora do filme sobre o naufrágio mais famoso do mundo ser valorizado de novo?
Particularmente, acho que ainda é cedo para se criar um novo público para Titanic. Já foi reprisado exaustivamente na TV aberta e a cabo, poucos são o que de fato não o assistiram. Os que ainda estão cansados do filme, dificilmente darão uma segunda chance a ele. Já os fãs, claro, não vão perder a chance de assisti-lo em 3-D. Os que gostaram, mas não consumiram avidamente na época, como eu, provavelmente também assistirão. Apesar de já ter quinze anos, o longa envelheceu bem. Todas as emoções continuam imersas: desde o irresistível envolvimento com o icônico casal de química perfeita formado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio até as eletrizantes sequências do navio afundando, que continuam capazes tirar o fôlego. E se a canção-tema interpretada por Celine Dion já era breguinha mesmo na época do lançamento, a potência da trilha-sonora de James Horner continua intacta. Curioso observar também que Kate Winslet já dava claros sinais de que se tornaria a grande atriz que é hoje (tanto que na época, foi indicada ao Oscar). Quanto a Leonardo DiCaprio, continuo achando que é um dos atores mais superestimados de todos os tempos, embora reconheça que ele já teve bons momentos em sua carreira (quando é dirigido por Martin Scorsese, por exemplo) e Titanic não se inclui necessariamente em um deles.
Apesar da fama de perfeccionista, James Cameron passa por cima dos furos e maniqueísmos do roteiro, que aliás, é bem simplório. De fato, a velha história de moça-rica-que-se-apaixona-por-artista-pobre já fora esgotada bem antes de 1997. O que salva Titanic do marasmo é justamente o potencial de James para fazer cinema de puro entretenimento. Quando ele quer, cria verdadeiras obras-primas do blockbuster como Aliens - O Resgate e O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final. Em Titanic ele não utiliza o seu potencial ao máximo, mas chega bem perto. O esmero na pilotagem dos efeitos especiais é facilmente identificável. James também se mostra hábil para gerar sequências memoráveis na primeira parte do filme, que se baseia apenas no romance e deixa a pirotecnia de lado. Como esquecer de DiCaprio gritando "I am the king of the world" na proa, o mesmo lugar onde depois ele sobe junto com Kate Winslet, na clássica cena em que ela abre os braços e diz estar voando. Assim como a brincadeira do cuspe à distância; ele desenhando-a nua, apenas com o colar de diamante; os dois dançando juntos na terceira classe. E, principalmente, a sequência onde o casal se encontra durante um jantar na ala dos ricos e que é re-utilizada de maneira ainda mais emocionante como a última cena do filme.
O efeito 3-D em si, pouco acrescenta, o que não é novidade se tratando de filmes que são feitos em 2-D e depois adaptados. Mesmo assim, como um verdadeiro clássico do cinema, a exuberância e a magnitude de Titanic são indestrutíveis. Não se esqueça de que ele mesmo nem precisou de terceira dimensão pra faturar quase 2 bilhões de dolares nas bilheterias e ainda por cima levar 11 Oscars de lambuja. Com ou sem os óculos especiais, ele ainda é diversão garantida.